quinta-feira, 2 de outubro de 2014

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Peregrinação a Santiago por Chaves
O que move as pessoas a peregrinar, pelos diferentes caminhos que existem desde o seculo IX, até Santiago. No meu caso e das pessoas que me acompanham, é a sua história, a preservação dos trilhos que ao longo destes séculos se mantêm em razoável estado de conservação em que se encontram, os apoios que existem tais como: indicações, informações e, sobretudo os magníficos Albergues que existem ao longo de todo o caminho. Obviamente, que encontramos uns melhores do que outros, no entanto, uma coisa é certa, as pessoas que passam por estes Albergues, de uma forma ou de outra, são respeitadoras sabendo estar em comunidade, partilhando os espaços em comum, como se o fossem seus, para que o próximo se possa servir da mesma forma que foi servido. E para terminar esta pequena introdução, não tenho tanta certeza se em Portugal existisse um caminho idêntico para Fátima, feito essencialmente por portugueses, se conseguiríamos manter as instalações como os Albergues, e mesmo os trilhos, tão bem preservados como estão os espanhóis. Será um problema cultural, ou mesmo falta de educação.
Este é o documento essencial para iniciarmos a nossa peregrinação. Este documento é parecido a um passaporte, isto é: nele consta o nome da pessoa assim como a sua identificação, número do B.I. tem o espaço próprio para pôr os carimbos ao longo da caminhada, neste deve constar o início da caminhada e a data, importantes para definir o percurso da nossa caminhada, assim como podermos pernoitar nos Albergues. Feito o trajeto, apresentas a credencial com os vários carimbos pelos locais que passas, catedrais capelas e igrejas ou mesmo nos cafés, deste modo no final tens direito à Compostela, que é um documento passado pelo serviço da Catedral de Santiago, em como foste peregrino do Caminho. Digamos que pelo facto de se abraçar o Santo é sem sombra de dúvida o ponto alto da peregrinação, a satisfação plena do dever comprido. Por vezes somos questionados dos motivos que te levaram a realizar esta aventura. No nosso caso é um itinerário misto de espiritualidade e cultural, aproveitando de uma forma diferente de conhecer Aldeias e Vilas que de outra forma dificilmente teríamos a oportunidade de conhecer, devo referir que se passa por lugares incríveis que só a pé ou de bicicleta os podemos admirar. É nesta perfeita simbiose de coisas belas, que o esforço despendido que chega a roçar o
2 desespero, é compensado pelo gosto de estar em perfeita sintonia com a natureza. Tenho de deixar aqui uma nota importante, acontecia que durante séculos a maior parte dos peregrinos, continuavam a sua peregrinação até Finisterra, Finisterra era o Fim da Terra, de certa forma, é mesmo o fim, pois em frente só existe o mar, na altura não se sabia que para além do mar havia mais terra, daí concluir-se não haver mais terra. Chegados aqui era altura de queimar as roupas e as botas deitá-las ao mar, desta forma renovava-se a vida, ou seja, a partir daqui, segundo a lenda teríamos uma vida nova ou pelo menos renovada.
O momento de ir receber a Compostela, ou seja a confirmação do caminho percorrido ao longo de mais de duzentos e cinquenta quilómetros, por trilhos, caminhos tortuosos, montes, vales e, até por corta fogo andamos. Para os antigos peregrinos e, principalmente para os que vinham da Europa, aqui não era necessariamente o fim. Segundo reza a história, para uma peregrinação completa, depois de Santiago, teriam que ir a Padron, visitar a pedra que segundo a lenda foi onde ficou amarrado o barco que supostamente transportou a cabeça de Santiago e, se encontra na igreja desta Vila. Depois teriam de seguir para Finisterra e aqui sim será o fim da longa peregrinação.
3 1º Etapa
Amorosa - Chaves – Viladerrei
Depois de termos carregado a carrinha com o material, bicicletas mochilas e mantimentos, demos início à aventura. Aqui é a pausa para o café da manhã, aproveitando o tempo para preencher as credencias do peregrino. Como mostra a foto, estávamos ainda muito limpinhos, caras risonhas e descontraídas. Estávamos na rotunda de Chafé, depois de ter saído da Amorosa rumo a Chaves. Seguimos em direção a Braga, passando por Famalicão, seguindo sempre pela estrada nacional. A meio do caminho nova pausa para as necessidades fisiológicas e, um café retemperador. Continuamos a viagem, da estrada conseguimos avistar o Gerês, continuando passamos juntinho á Barragem da Venda Nova, esta albufeira tem uns lindíssimos recantos, dignos de ser explorados numa outra altura e com tempo. Chegados a Chaves, estacionamos no jardim junto das termas. Desta cidade magnífica, podemos destacar esta ponte romana de nome "ponte de Trajano". À época da invasão romana da Península Ibérica, os romanos instalaram-se no vale do rio Tâmega, onde hoje se ergue a cidade. Montamos as bicicletas, e como bons portugueses almoçamos o farnel que as nossas mulheres se dignaram presentear-nos. Depois deste repasto maravilhoso, fomos ao cafézinho mesmo ao lado para bebermos o nosso café, pois daqui para a frente iríamos tomar uma espécie de café à espanhola.
Chegou o momento de dar início à nossa peregrinação propriamente dita. Combinamos com as nossas assistentes esperarem por nós na fronteira. Entretanto fomos à Catedral para carimbar as credenciais, como é da praxe, mas quando chegamos à dita, encontramos a mesma fechada, desolados deambulamos por ali e demos com um convento de freiras, resolvemos bater à porta e, uma irmã abriu a porta meia desconfiada, perguntamos se era possível carimbar as referidas
4 Credenciais. A Irmã respondeu prontamente que não tinha carimbos, agradecemos da mesma forma pelo incómodo causado, ficando a olharmos uns para os outros. Neste entretanto surge uma senhora que se dirigia para um restaurante que se encontra mas defronte ao convento das Irmãs. Interpelamos a senhora que se prontificou a carimbar as credenciais. Demos uma volta para conseguirmos descobrir a indicação do caminho, avistada a primeira seta e, seguindo rumo á fronteira. Começamos por sair da cidade pela zona industrial e, começamos a entrar na parte mais rural, pequenas localidades como outeiro seco e Vilarelho da Raia, notando-se algum, para não dizer bastante, abandono, deixando no ar uma melancolia e tristeza pela degradação encontrada.
Quando demos por nós, estávamos no concelho de Verín, sem termos passado pela chamada fronteira a que estamos normalmente habituados. Contactado o nosso apoio, confirmaram-nos que estavam na fronteira à nossa espera, pelos marcos quilométricos verificamos que já estávamos cerca de cinco quilómetros dentro de Espanha. Esperamos que chegassem ao nosso encontro para definir a próxima paragem. A espera serviu para descansar um pouco, logo nos alcançaram. O trajeto que se seguiu foi rolar em alcatrão. Até a uma pequena localidade chamada de Trasmiras, paramos junto a um pequeno parque, para lancharmos alguma coisa, e retemperar as forças. Definimos a estratégia a seguir, pois as horas estavam a passar e, para o primeiro dia, o ritmo da pedalada ainda não estava em pleno e, seria perigoso entrar em esforço muscular. Assim sendo decidimos, andar mais uma vintena de quilómetros aí iriamos encontrar o Albergue de Viladerrei. As nossas assistentes ficaram de fazer a respetiva prospeção e, ficarem à nossa espera próximo do Albergue, não era conveniente que as vissem de carro, é que os acompanhantes ficam sempre para últimos e, se houver vagas, as prioridades e com lógica, é para quem anda a pé, seguidamente para quem vai a cavalo, neste caso é raríssimo encontrar alguém, eu próprio já ando nisto à algum tempo e confesso que nunca vi ninguém. E por conseguinte os ciclistas ficam para o fim, só depois podem entrar os acompanhantes. Ora para evitar este tipo de constrangimentos e, à boa maneira portuguesa usamos do seguinte subterfugio. As nossas assistentes, passavam pelo Albergue e, escolhiam o melhor
5 local para esconder a carrinha. A quando da nossa chegada pegavam nas mochilas que já se encontravam preparadas e chegavam como se estivessem pedalando.
Deste modo entravamos todos ao mesmo tempo, o que para a logística era fantástico. Durante este percurso, tivemos de enfrentar a chuva, que foi alternando com algumas abertas, no entanto o frio era uma constante. Assim fomos passando por pequenas localidades como, Monterrei, Albarellos, Infesta, Cualedro, devemos ter em atenção, a quando da passagem por estas localidades devemos sempre que seja necessário encher o cantil, aproveitando a ocasião para hidratar, com água bem fresquinha. A etapa iria entrar na sua pior fase, começamos a subir entrando numa Aldeia rural Rebordondo, no emaranhado do casario, não conseguimos ver as setas do caminho, encontramos um grupo de jovens aldeões, um deles montava a cavalo, resolvemos perguntar por onde era o caminho, percebida a orientação, seguimos pelo casario até entrar na floresta, e para nosso espanto, estávamos a subir por um corta fogo de mais de doze por cento de inclinação, digamos que só os verdadeiro BTT´s seriam capazes de enfrentar tal adversidade, para nós simples ciclistas foi subir a pé ao lado da bicicleta, devo dizer que mesmo assim não foi fácil, chegar ao cimo, no entanto fomos fazendo algumas paragens pelo caminho, bem exaustos e, com mais ou menos dificuldade atingimos o cume. E como tudo o que sobe também desce, deu para retemperar o fôlego nessa vertiginosa descida, passando por Pena Verde. Espibadas e por fim Viladerei Estávamos ansiosos por entrar no Albergue para tomar um retemperado banho bem quentinho. Entramos na referida Vila, pelo meio do casario e, de Albergue nada, passamos toda a Aldeia, e já à saída para a estrada nacional lá estava a indicação do Albergue que ficava um pouco para trás mesmo na nacional. Encontramo-nos com as nossas assistentes, que já tinham a carrinha escondidinha. Chegados à porta verificamos que se encontrava fechado, mas na porta encontrava-se um contacto para o qual deveríamos ligar, esperamos cerca de dez minutos quando chegou a senhora responsável pelo Albergue, fizemos o check in. Qual a nossa admiração, o Albergue tinha umas instalações fantásticas, acabado se ser todo renovado e, via-se uma limpeza bem cuidada. A senhora indicou o quarto com os beliches e, todo o resto da infraestrutura, ficamos admirados com tudo o que vimos. Para nosso espanto, ficamos, sozinhos naquele fantástico Albergue. Depois do banho retemperador, comemos uma sopa quentinha, que
6 soube pela vida, por fim, um cafezinho que veio mesmo a calhar. Tinha chegada a hora do descanso, pois no dia seguinte tínhamos uma etapa, que iria exigir um grande esforço físico, por conseguinte o descanso seria fundamental. A Augusta tinha levado umas gotas nasais evitando o meu ressonar, não é que eu me importe muito, nada ouço, mas pelos vistos deu efeito, ninguém se queixou e, todos tiveram uma noite tranquila. No dia seguinte, tomamos o pequeno - almoço, arrumamos tudo para a carrinha, preparamos as bicicletas, distribuímos as barritas e enchemos os cantis de água fresca. Combinamos o ponto de encontro, que seria em Allariz. Junto da nossa carrinha estava um sujeito muito curioso. Quando nos aproximamos entabulamos dois dedos de conversa e, ficamos a saber que vinha a acompanhar um grupo de quinze ciclistas que vinham de Guimarães. Depois de uma boa prosa, continuamos, entre trilhos e alcatrão rumo ao desconhecido.
Passando por Transmiras, Zos, Brado, Xinzo de Limia,Vilarinho das Poldras, Gonzo de Limia, Vilar de Sandias e Pineira dos Arcos. Tirando Transmiras que é atravessada pelo rio Lima a Noroeste, existindo ainda duas bacias hidiográficas que são o Trasmira e o Faramontaos existentes neste concelho. Temos de destacar a arquitetura religiosa existente na região, a igreja de San Martinho de Abavides e San João. De referir aqui um dado histórico. importate. Xinzo de Limia tem as características dos povos límicos, que ficaram nesta região dominada pelos romanos. Neste município a norte encontram-se vestígios romanos que datam do seculo XII. Itinerário de Antonino, que juntou Braga e Astorga. Esta cidade foi conquistada e reconquistada pelo rei Português Afonso Henriques. Finalmente recuperado por Afonso II, passando a constituir um condado. As restantes aldeias não tem muito a destacar a não ser a água que podemos beber nos fontanários aí existentes, para além do casario antigo característico desta zona.
7 Continuamos pelos trilhos lindíssimos como comprova a foto acima, é destes momentos de interação com a natureza, que esquecemos a dureza que encontramos ao longo da peregrinação. Uma pausa para a foto e retemperar as forças, comendo uma barrita e bebendo um pouco de água, para não desidratar. Voltando aos trilhos mais uns quilómetros e entramos numa vila já com alguma dimensão. Como entramos sempre pelos trilhos, nem sempre aparecem as placas identificativas das localidades, esta não foi exceção. Estávamos meios confusos, a olhar para o casario que estava à nossa frente, olhamos uns para os outros e, de repente sujem umas pessoas e resolvemos perguntar se ali era Allariz, as quais responderam prontamente que sim. Telefonei para a Augusta a dizer que tínhamos chegado, ela respondeu que se encontrava de visita ao convento de Santa Clara e, já vinham ao nosso encontro. Continuamos mais um pouquinho até ao centro histórico, ali bebemos um cafezinho enquanto esperávamos. Uma das mais interessantes vilas galegas, Allariz é desde 1971, conjunto histórico artístico. As suas ruas e o seu casario, construídas em pedra, mostram um conjunto harmonioso e fantástico digno de ser visitado, assim como as paisagens envolventes ao rio arnóia que dão a Allariz, um encanto quase único, onde a história está escrita nas pedras, é de destacar um trabalho cuidado na conservação. Aqui destaco duas importantes obras a visitar a igreja românica de S. Pedro. Que se encontra situada no centro histórico da vila datada do final do seculo XII. E o convento de Santa Clara, fundado em 1268, pela rainha Vitoria, mulher do Rei Afonso X, O Sábio, este edifício sofreu um grande incêndio em 1757, ficou quase destruído. 8 Ficou totalmente recuperado no final do seculo XVIII, e é uma das maiores obras barrocas da região. Feito o relato histórico e, retemperadas as energias com as nossas companheiras de viagem, que entretanto vieram ao nosso encontro, pois estavam maravilhadas e entusiasmadas com toda esta maravilha, por fim continuamos a viagem. Encontramos algumas dificuldades na saída desta vila, pois não encontrávamos a seta ou a vieira que indicasse o caminho. Desta forma, ficamos a conhecer bem o centro desta encantadora vila, o seu passado histórico, as pitorescas ruas e, encantadoras casas de granito bem cuidadas e também não menos simpáticos habitantes, ficamos sempre com alguma nostalgia da hora da partida. Deixo aqui estas fotos, que deixa a imagem do nosso contentamento e satisfação deste momento. São momentos únicos, os quais devem ser bem vividos, e deles devemos tirar a plenitude dessa vivência. Com certeza que é desta forma que somos um pouco mais felizes. Assim seguimos pelos nossos trilhos rumo a Ourense 9 De Allariz a Ourense, passamos pelas seguintes localidades, Santiago da Folgosa, Roiriz de Abaixo, Roiriz de Ariba, Rubias, Os Espinheiros, Toboadela, Santiago da Robeda, Pereiras, San Cibião das Vinhas, A Costellana, A Ponte Toalla, Seixallo Ourense Continuamos o nosso caminho pela serra a cima, ao mesmo tempo que íamos passando por estas localidades, estas aldeias eram compostas por algum casario própria da região, nada de relevante a realçar. Este trilho de dificuldade média, em determinado momento tivemos de alternar alguns troços a pé, na medida em que o relevo do percurso e o próprio piso, dificultavam o nosso equilíbrio na bicicleta e, confesso que as forças não davam para tudo. Quando chegamos ao cimo de uma dessas montanhas em Rubias, fizemos uma pausa para beber e comer uma barrita, quando íamos retomar a o trilho, parti a peça que prende o esticador das mudanças e a corrente, nunca tal me tinha acontecido. Este tipo de avaria, dificilmente acontece, mas o que é facto ,acontece, e como não tínhamos como o resolver, não tínhamos as peças para as substituir, desta forma só com o auxílio do mecânico, é que poderíamos solucionar o problema. Depois de amarrar as peças soltas com um pedaço de uma saca plástica e, deixando a roda traseira livre pelo menos nas descidas poderia vir em cima e, desta forma ganhar algum tempo. Entretanto tínhamos telefonado para a assistência em viagem, "as nossas esposas" dando-lhe as coordenadas de onde iríamos ter. Entramos numa estrada secundária até perto da nacional, que era o nosso ponto de encontro. Foram cerca de quatro quilómetros a descer, o que facilitou a vida nem tudo foi mal. Chegados ao ponto de encontro logo chegou o carro de apoio. Posta a bicicleta na carrinha e, como eram horas de almoço resolvemos almoçar por ali. Redefinimos a estratégia perante esta adversidade e, ficou definido que devido a esta perda de tempo, os outros dois ciclistas iriam pela estrada nacional até Ourense, pois eu teria que ir de boleia. Entretanto também ficou combinado que no primeiro café que encontrássemos na estrada parávamos para a dita bebida. Fiquei um pouco frustrado por este acontecimento, não havia mais nada a fazer do que esperar pelo dia 10 Seguinte. Era Domingo estava tudo fechado, havia que esperar por segunda- feira. Depois de andarmos uma dúzia de quilómetros, encontramos o café, paramos e, ficamos ali sentados a beber o nosso café esperando pelos ciclistas.
Estamos de saída da vila de Allariz, que pelo seu encanto e beleza, deixou-nos a todos uma certa nostalgia.
11 Albergue de Ourense, como fomos os últimos tivemos de ficar em cima
Continuamos a viagem após a pausa e o próximo ponto de encontro seria no Albergue de Ourense. Como a viagem de carro se fez em pouco tempo, aproveitamos para dar uma volta pela cidade. Entretanto o tempo foi passado e estava na hora de irmos para perto do Albergue, local do encontro com o Jorge e a Lenita, que vinham pedalando. Decidimos perguntar a um taxista onde era o Albergue dos peregrinos. O taxista informou-nos corretamente, seguimos a indicação e quando estávamos mesmo a procurar o melhor local para estacionar, demos de caras com a porta principal do Albergue que tinha a receção mesmo em frente, nesse mesmo instante chegavam os ciclistas. Quando fomos tratar das formalidades para entrar o rececionista só permitia a nossa entrada depois das 19:00h, ainda argumentamos que tínhamos uma das bicicletas avariadas e estávamos cansados, mas nada moveu a decisão do rececionista. Como estávamos com mais duas horas de espera, aproveitamos todos para ir visitar a cidade, começamos pelas Burgas, pela catedral e por toda a zona histórica, na Praça de Maior, estava uma exposição de carros antigos que fazia as delícias dos olhinhos. A cidade é de origem romana, embora haja dúvidas sobre a etimologia do topónimo Orense. A primeira teoria é que ele foi nomeado pelos romanos, possivelmente, como "Cidade de Ouro" (Auriense) pela sua enorme abundância deste metal, o que tornou uma importante cidade na província romana de Espanha até que suas reservas foram esgotadas. Este metal amarelo era encontrado em toda a
12 extensão do rio Minho. Outra teoria seria que o nome da cidade era proveniente da queima aquae, em Latin ("água escaldante). Os mananciais de água quente são possivelmente o maior atrativo da cidade de Ourense. As mais conhecidas são As Burgas, fontes de águas termais, que constituem um dos principais monumentos da cidade, sendo Ourense também conhecida como a "cidade das Burgas". Mas também encontramos numerosos lugares acondicionados para banhos a céu aberto, tanto gratuitos como, apreços económicos, que estão situados à beira do Rio Minho. Só as Burgas estão no centro da cidade. Podemos encontrar um pequeno jardim, onde se encontra um fontanário de um juram duas saídas de água à temperatura de cerca de 60ª Celcius. Esta fonte é ponto de paragem obrigatória dos turistas. Catedral de Ourense, diz a lenda, que o monarca suevo chamado Carriarico, ordenou a construção da primeira igreja em honra de São Martinho de Tours, padroeiro da cidade, grato pela cura de um dos seus filhos. As incursões dos muçulmanos destruíram, e voltou-se a construir durante os séculos XII e XIII, em plena época do românico. A catedral tem uma planta de cruz latina com três naves. Na sua forma atual começou a ser construída em 1160 e ficou concluída em meados do século XIII. Na entrada pela porta principal encontra-se o Pórtico do Paraíso que se assemelha ao Pórtico da Glória da Catedral de Santiago de Compostela, e que, junto com ele, representam os melhores conjuntos arquitetónicos das catedrais galegas.
Este pórtico, a imagem do Compostelano, não seria um pórtico com uma funcionalidade de acesso ao templo, senão que pela sua posição tratar-se-ia de uma arquitetura nartece, que é um vestíbulo á entrada das primitivas basílicas, destinada aos catecúmenos e penitentes, que entravam por ali. Das diferentes capelas existentes na catedral, a mais importante é a do Santo Cristo, a mais venerada de todas.
No museu da catedral podemos encontrar, entre outras coisas, o "Tesouro de São Rosendo" das peças que o compõem destaca-se o chamado "Básculo de São Rosendo"
13 De visita à piscina das termas de água quente.
A
Ponte Maior de Ourense, também designada por, Ponte Romana, Ponte Medieval ou Ponte Velha, é uma ponte sobre o rio Minho situada no centro histórico da cidade de Ourense. Segundo a tradição a ponte teria sido construída durante o reinado do imperador romano Trajano, mas na realidade foi no reinado de Augusto, no século I d.C. Apenas a parte inferior dos pilares (algumas pedras das bases segundo algumas fontes) é da ponte original romana. A ponte fazia parte de um ramal da estrada romana Via XVIII (também chamada Geira ou Via Nova) do Itinerário de Antonino. Foi restaurada em mais do que uma ocasião ao longo da história e o seu aspeto atual é em grande parte o resultado das obras do século XVI. Depois desta visita histórica, voltamos ao Albergue e, desta vez o antipático do responsável até nos chamou para fazermos o chek in, não deixando uma recomendação até agora nunca vista, teríamos de tirar as botas à entrada e só depois poderíamos subir para as camaratas. Com isto pensava eu, que da experiência adquirida ao longo dos mais de seis peregrinações e alguns caminhos diferentes nada me iria surpreender, mas como diz o ditado quanto mais conheço os homens mais gosto do animais. Recomendação aceite, pois estávamos desejosos de tomarmos um belo dum banho e, ainda tínhamos de fazer as camas e organizar o jantar. Como tínhamos poucas hipóteses de escolha, as camas de baixo já se encontravam todas ocupadas, restavam as camas de cima, por mim tudo bem, mais complicado foi para a Augusta que teria que trepar mas como as dobradiças se encontram em estado deplorável, que remédio, teve que se sacrificar e é se queria dormir. Como tinha sido um dia em cheio, foi tomar banho e comer uma sopinha instantânea, um café, dois dedos de amena cavaqueira, redefinimos a A famosa fonte das Burgas, aqui a Lenita quis meter os pés na água
muito quentinha 14 estratégia para o dia seguinte, a Lenita e o Jorge seguiriam os trilhos esperando por mim em Cea, eu tinha de ficar à espera que reparassem a minha bicicleta.
Aproveitamos a visita a estes magníficos carros, que marcaram uma época importante na evolução dos automóveis
15 3º Etapa
Ourense – Cea – Dozón
No dia seguinte, como estava planeado o Jorge e a Lenita seguiram os trilhos até Cea, ponto de encontro com o restante grupo. Eu a Augusta e a Helena ficamos à espera do arranjo da bicicleta. Demos mais uma volta pelo centro histórico, fomos visitar o interior da catedral, as senhoras foram visitar umas lojinhas como não podia deixar de ser. Depois de reparada a respetiva máquina demos inicio à viagem até Cea. Chegados a Cea reunidos com o Jorge e a Lenita, e como era horas de reabastecer o organismo, comemos umas sandochas do tradicional pão de Cea. O centro da Vila de Cea o, nosso ponto de encontro
Aspeto de um dos mais famosos fornos comunitários de Cea
Aqui vai um pouco da história de Cea: A história da cidade corre paralelo ao Mosteiro Oseira fundado em 1137 por monges cistercienses, cujo abade passou a ostentar o título de Conde de Cea. O mosteiro, nomeado pela sua grandeza "El Escorial Galego" recebeu o prémio "Europa Nostra" da União Europeia, no ano de 1989, que foi apresentado por Sua Majestade Rainha Sofia, a 5 de dezembro 1990, devido ao excelente trabalho de restauração realizado. A arquitetura tradicional está presente no centro histórico de Cea nos velhos fornos comunitários: "A Cebola", "Do Abade", "Da Eira" e "Da Capela". Destes fornos saíam o famoso pão, que também era conhecido por esquisito devido à sua forma nada ortodoxa. Acabado o repasto demos já todos os três ciclistas início à etapa até Dozón, mas não sem antes passar pelo mosteiro de Oseira, que faz parte do nosso percurso, ignorando o que estava para vir. Andamos cerca de dez quilómetros e, após uma descida vertiginosa que nos soube pela vida, como diz
16 o ditado antes de uma descida encontra-se uma subida. Eis-nos chegado ao magnífico mosteiro, aqui estavam à nossa espera a Augusta e a Helena.
O
Mosteiro de Oseira é um mosteiro medieval de fundação beneditina que ao longo da sua história teve uma grande importância econômica e social para a comarca e terras mais distantes. Situa-se na paróquia de Oseira, no concelho de San Cristovo de Cea, província de Ourense.
Sabe-se de sua existência desde 1137, mas logo nos primeiros anos converteu-se num mosteiro dependente da Ordem de Cister e no ano 1141 estabeleceu-se uma colônia de monges franceses enviados por São Bernardo.
A igreja abacial foi construída entre os anos 1200 e 1239 aproximadamente e é considerada uma das obras - primas da arquitetura cisterciense da Península Ibérica, com característico estilo românico ogival, e foi claramente influenciada pelas igrejas de peregrinação. A sala capitular do mosteiro data de fins do século XV e é sustentada por quatro colunas centrais de fortes troncos rematando numa original abóbada. No antigo refeitório do Mosteiro pode-se visitar o
Lapidarium ou Museu da Pedra, uma coleção de objetos e restos de pedra obtidos durante as restaurações feitas no Mosteiro e as escavações arqueológicas: lápides, capitéis, colunas, elementos decorativos etc. fica aqui retratado este lindíssimo Mosteiro. 17 Depois da tentativa de visita, paramos no café ali existente para um pouco de descanso. Encontravam-se lá, um grupo de ciclistas portugueses que vinham também a fazer o caminho, mas estes começaram em Bragança em direção a Sanábria. Localidade lindíssima que tem um espetacular lago com cerca de quilómetro e meio de diâmetro, tal é a sua dimensão. Estou a falar disto com conhecimento de causa, pois já passamos uma semana de férias lá, há alguns anos atrás. Acabada esta conversa de ocasião, continuamos trilho fora, longe de pensar no que aí vinha. O trilho revelava desde logo uma inclinação um pouco acentuada, mas nada que depois 18 daquele descanso fosse dificuldade, no entanto um quilómetro mais acima, encontramos o trilho que não era nada mais que um amontoado de pedras, que pela erosão do tempo, estavam bem arredondadas pelo que seria completamente impossível pedalar num trilho assim. Estávamos perante duas grandes dificuldades, a inclinação e o piso, desmontamos das bicicletas e, até o simples fato de impulsionar a bicicleta se tornava doloroso para não falar nas escorregadelas que fazíamos por essas pedras acima. Foram sensivelmente quatro quilómetros por esse monte fora, até chegarmos ao topo, no entanto a prova foi superada com muita água e umas barritas que fomos comendo durante o percurso. Mas como depois da tempestade bem a bonança, a descida foi bem tranquila.
Dozón
Chegados à Simpática Vila do concelho de Pontevedra, estavam á nossa espera e, a cerca de quatrocentos metros de distância do Albergue as peregrinas mais coquetes que conheço. Fizemos uma pequena pausa para beber um sumo e retemperar as forças e partimos para o Albergue. O Albergue ficava situado no complexo de lazer desta localidade, composto por piscinas e um excelente relvado envolvente, servido por um não menos bom edifício onde constava um balneário, e um salão onde se encontravam os dormitório, o restaurante que não funcionava mas, servia de apoio aos peregrinos. E para completar este magnífico centro de apoio era oferta da freguesia aos peregrinos de Santiago. Como português e, fazendo uma analogia a uma situação semelhante em Portugal, que instalações encontraríamos ao fim de meia dúzia de meses, se é que resistiriam a tanto. Será um problema cultural? Ou simplesmente, gente que não é certamente… Instalados no Albergue e, depois de uma boa banhoca, a Lenita já estava a descansar na sua cama, eu e o Jorge resolvemos ir ao mercado comprar uma garrafa de vinho para o jantar, quando fomos abordados por dois portugueses que se encontravam nas camas de frente, perguntaram-me se eu tinha sido marinheiro, como trazia vestido uma t-shirt da marinha.
Igreja de São Pedro de Dozón.
19 Respondi que não, mas a minha filha sim, demos dois dedos de conversa, ficamos a saber que eram da GNR e, estavam a fazer o caminho a correr, bem coisa de gente com muita preparação física. Entretanto a Augusta e a Helena foram fazer o jantar. Saímos para o mercado e fomos beber uma cerveja pois estávamos com sede mas não era de água. Compramos o vinho e regressamos ao Albergue, tínhamos uma tarefa ainda por fazer, consistia em pôr a mesa e ajudar em alguma coisa mais que fosse necessário. As nossas esposas presentearam-nos com uma belíssima refeição de massa de frango, é que os desportistas precisam de hidratos de carbono para que os músculos não tenham caimbras, importante para manter a forma física em alta. Durante o jantar, fizemos um balanço da viagem isto é: um misto de peregrinação, cultural e lazer, um lugar aprazível para se passar um dia de descanso, o que fazem as pessoas desta localidade.
No dia seguinte iríamos ter uma etapa de dificuldade média. Demos início aos preparativos, isto é, antes de tudo arrumamos as nossas mochilas com alguns mantimentos para o caminho, e, metemos as
tralhas na carrinha. Desta forma cada um, nas suas bicicletas demos início à etapa. 20 4ª Etapa
Dózon – Vedra - Santiago
Saímos de Dozón, onde tivemos de passar pelas seguintes localidades: São Domingos, Puxallos, Pontenorte, A Xesta, Medelo, Mesai de Lunarro, Botas, Donsion, O Campo, A Empedrada, Prado, Sileda, O Foxo, Margarida, Chapa, A Cosedeira, Piñeiro, Castrovile, Foimil, A Estrada, Valboa, Arnois, Calzada, A Veiga, Vedra, Ponte Ulla. O mosteiro,
de São Domingos fundado em 1281, pertencia à ordem dominicana. Foi construído em estilo gótico. Podemos visitar as ruinas da Igreja, que ainda se encontra mais ou menos preservadas, com cinco capelas poligonais. A igreja foi construída no século XVII e destruída no século XIX, como o convento que abrigava o claustro e os edifícios do convento. Durante este percurso em
Puxallos podemos ver o monumento ao peregrino. Imagem de marca, muito comum nos caminhos de Santiago. Mostra bem o quanto são fervorosos católicos os nossos vizinhos. A Xesta, aqui podemos apreciar este idílico cenário, quem faz a o caminho pode desfrutar de um momento de reflexão, que pelo cansaço ou simplesmente por motivação religiosa tem aqui um lugar único com a natureza e com Deus. 21 A Empedrada, mais correto nome não podia existir, como podemos verificar, tivemos que calcorrear por este trilho, dificultando o equilíbrio em cima da bicicleta e, por vezes tínhamos mesmo de desmontar por se tornar impossível a sua transposição. Desta forma também podíamos recuperar um pouco, do esforço despendido, aproveitávamos assim para nos refrescar e alimentar, comendo uma barrita para repor as energias. Silleda, soube depois de ter passado por esta localidade que poderíamos desfrutar deste lugar maravilhoso, mas como se pode compreender não podemos visitar tudo, devido ás restrições do tempo, no entanto fica a nota par uma próxima oportunidade. O nome vem da voz estratos Estrada Latina, ou seja, de terra pisada, onde você anda, forma. Na verdade, dois caminhos se cruzaram na praça principal: de sul para norte até uma estrada de Terra de Montes, Ourense e Portugal, onde os pastores e peregrinos indo para Santiago de Compostela; e de leste a oeste, de terras Deza, Trasdeza e interior da Galiza, por aqui eram efetuados os transportes de bens, entre o interior e o litoral.
O nome Tabeiros tem a sua origem no tempo do rei Suabo Miro, no século VI, é mencionado no Chronicon Iriense como pertencente à diocese de Iria. No século XII, o arcebispo de Santiago Gelmírez e o rei Afonso VII de Castela trocaram entre si as, terra de Tabeiros e Castro Tabeirolos Faro, da primeira para a posse da mitra Compostela. Toda esta região abarcava e inclui todas atual cidade de La Estrada, exceto Vea paróquias até 1840, quando o Conselho da Cidade e Comarca de La Estrada (agora a capital da região administrativa que compreende os municípios de La Estrada foi criado as Vilas de Forcarey e Cerdedo.
22 Três anos antes, por causa de confrontos entre absolutistas e liberais, a Câmara Municipal de Tabeiros Cereijo retirados do seu local de La Estrada, formada apenas por quatro casas no cruzamento, entre as freguesias de Figueroa e Guimarey sítio romano.
A partir do século XII, estas terras que hoje compõem o município de La Estrada foram por despacho dividido em "coutos" e jurisdições em que as terras se denominavam propriedade da Mitra Compostelana: as terras de Tabeiros (o maior de todos) Ver Couto, Couto de Codeseda, Couto de Vega e Oca e do Couto Viso. Em 1836, foram realizadas varias reuniões para unirem os pequenos coutos. A 1 de janeiro de 1837, a fusão de Coutos Vega e Oca, Viso, e Vea Codeseda Tabeiros. O conselho foi formado em Cereijo, localizado Pernaviva, com cinquenta e uma freguesias (incluindo La Estrada, que aparece pela primeira vez, deu origem as seguintes freguesias, Figueiroa de cima Figueiroa de baixo, Rodeiro, Regueiro, Pedregal, e Vilabrasil Vilar). Em 1840 houve a demissão da Cidade de Cereijo, solicitando o nome do município La Estrada, aprovando a 23 de janeiro de 1841.
Ponte Ulla, O rio Ulla é o limite geográfico das províncias de A Coruña e Pontevedra e desagua no Rio de Arousa. Ao passar pela cidade de Ponte Ulla Vedra, Esta ponte foi construída em 1958 para o caminho de ferro. Tem um aspeto lindíssimo e, fica bem enquadrada no meio desta paisagem, não provocando um choque ambiental. Durante este percurso, ao longo da margem do rio Ulla, que segundo relatos históricos, fez parte de uma via romana, em determinada altura em que tivemos de atravessar o rio, o fizemos por uma ponte romana ali existente, sem duvida uma verdadeira obra de arte para a altura. Não só pela sua singularidade, mas também pela sua forma original de construção. Tivemos que retratar bem o momento, fazendo aqui uma pausa que serve sempre para baixar os níveis cardíacos. 23 Nesta foto podemos ver a ponte do caminho-de-ferro ao fundo e, a ponte rodoviária da via rápida, e ainda a ponte da estrada mais antiga. Este local, foi previamente estabelecido para nos encontrarmos. Segundo os nosso cálculos, seriam horas do reabastecimento ou seja horas do almocito. As nossas snobs peregrinas, já tinham realizado o reconhecimento efetivo do local onde poderíamos almoçar. O 24 lugar não podia ter sido melhor, pois até uma fonte de água bem fresquinha existia para lavar as mãos e encher os cantis.
Retemperadas as forças, voltamos aos trilhos até Vedra, aqui iríamos pernoitar no Albergue, entretanto as snobs, enquanto esperavam por nós, entraram num café de aldeia mesmo à moda antiga, quando entraram depararam com letreiro onde se podia ler que naquele estabelecimento só serviam
café de pota. Estupefactas e curiosas, (não fossem mulheres), perguntaram o que era café de pota, nada mais que café feito à moda antiga, isto é, feito na cafeteira como faziam as nossa avós. Enquanto saboreavam o "requintado café", perguntaram onde ficava o Albergue dos peregrinos, recebida a informação, pelos vistos, encontravam-se bem perto do mesmo. A nossa viagem foi alternando com algumas subidas de elevado rigor técnico e, outro nem tanto mas paulatinamente as dificuldades que apareceram foram superadas. No entanto uma pequena avaria na bicicleta da Lenita, ela estava com dificuldade em pedalar, chegando mesmo a não conseguir, como nos encontrávamos uns metros mais á frente, teve que vir um pouco com a bicicleta à mão até junto de nós. Identificada a avaria, que não era mais que um dente da pedaleira grande virado, não permitia a cadência da corrente. Ao endireitar o respetivo dente, este partiu no entanto continuamos a viagem sem problemas. Ao chegar a Vedra, encontramos esta fonte de água que veio mesmo a calhar, e reunimos com as nossas peregrinas. Retemperadas as forças as snobs peregrinas informaram-nos que o Albergue era um pouco mais á frente. Dirigimo-nos ao Albergue, quando entramos no albergue e, como levávamos os capacetes na mão, a responsável do Albergue foi muito atenciosa, mas foi dizendo que se queríamos pernoitar ali, teríamos que esperar pelas sete da tarde. Como é óbvio não era esse o nosso objetivo, até porque o cansaço estava a
25 apoderar-se de nós, a respeitável senhora foi-nos dizendo que faltava uma dezena de quilómetros até Santiago e o trilho não era difícil, pois só tínhamos uma subidazita mais, e o resto era quase sempre plano.
Reunidos novamente, entre andarmos mais hora e meia e ficar à espera duas horas e não era garantida a estalagem, resolvemos meter os pés ao caminho, ou seja montar nas bikes e seguir viagem. Quando estávamos prestes a partir, avistamos os nossos conterrâneos que andavam a fazer a peregrinação em corrida, aguardamos a sua chegada e demos dois dedos de prosa. Ficamos a saber que de todas as pessoas que se encontravam no Albergue de Dózon, só faltávamos nós, ser encontrados por eles, pois segundo o seu relato até mesmo alguns elementos que andavam de bicicleta foram ultrapassados por eles. O que para nós representou um certo bem-estar, pois já tínhamos chegado à uma boa meia hora. Concluímos que afinal e apesar dos quilinhos a mais, mantínhamos uma boa performance. Explicamos a situação do Albergue e, despedimo-nos ali deles, desejando-lhes felicidades, as quais foram retribuídas por eles. Segundo consta, nas redondezas desta Vila existe um monte de grande significado.
O Pico Sacro, em Boqueixón, que com seus mais de quinhentos metros de altura, onde podemos observar as paisagens circundantes, está ligado à tradição da "Translatio" do corpo do Apóstolo Santiago desde Iria Flavia até Compostela. Nas suas ladeiras viviam os bois bravos que os discípulos de Santiago amansaram para amarrarem ao carro que trasladou o corpo do Apóstolo até o seu sepulcro no bosque Libredón.
Continuamos a nossa peregrinação rumo a Santiago, já com as forças renovadas, tendo em vista que seriam mais uma hora ou talvez um pouco mais e entraríamos na grandiosa praça do Obradoiro. Que para os peregrinos é de grande emoção, tenho a certeza de que ninguém fica indiferente quando chega
26 aquele lugar Santo. Como estava a dizer o trilho realmente era de dificuldade média baixa, fomos andando sem sobressaltos de maior, até que entramos numa ponte que passava por cima do caminho – de - ferro, ao fundo mesmo quase à saída da ponte, encontravam-se dependurados na rede de proteção uma série de objetos tais como: flores, t-shirts, fotos entre outras mais ou menos pessoais. Pensei no momento, que seriam coisas que os peregrinos por vezes e em determinados pontos da peregrinação vão deixando por diferentes motivos. Como já tínhamos percorrido cerca de dez quilómetros, paramos imediatamente a seguir à ponte, num café ali existente. Pedimos uma bebida para cada um e, perguntamos à senhora qual o motivo daqueles objetos ali depositados. Foi desta forma que ficamos a saber que, aqueles objetos eram em memória das vítimas do trágico acidente ferroviário que provocou a morte de dezenas de pessoas, devido ao descarrilamento de um comboio de alta velocidade com destino a Santiago. Depois desta refrescante pausa, iniciamos o percurso, muito ansiosos porque o fim estava prestes a chegar e, os níveis de ansiedade disparam abruptamente. Andamos cerca de um quilómetro e senti que a minha bicicleta estava com um barulho esquisito no pneu, paramos e verifiquei que se encontrava um pedaço de vidro espetado. Retiramos o vidro que deu origem a um pequeno rasgo e, daí resultou a perda de ar, ou seja um grande furo. Tentamos pôr um pouco de ar, mas nada feito, a pequena bomba que tínhamos não dava, resultado, o Jorge e a 27 Lenita seguiram e eu fui com a bicicleta á mão. Fiquei irritadíssimo comigo mesmo, mas não tinha mais nada a fazer do que seguir até ao fim. Devo dizer que não foi a chegada triunfal que esperava, pois o objetivo era chegar na bicicleta e não ao lado dela. Temos de nos resignar, pois a vida é mesmo assim, nem sempre as coisas correm de feição e, temos de ter a serenidade necessária, para podermos ultrapassar estes imprevistos. Depois de reunido o grupo, fomos de imediato carimbar e receber a Compostela, da peregrinação realizada. Estávamos com receio que os serviços fechassem, dirigimo-nos para lá, quando chegamos estava uma fila considerável, no entanto estivemos pouco mais de meia hora até chegar a nossa vez. Verificamos que para além da referida Compostela, os serviços imitem um outro certificado em que faz referência ao início do caminho que se fez assim como os quilómetros percorridos, achamos bastante interessante, mais esta forma de promover estes caminhos que são sem sombra de dúvida uma maravilha da natureza. Recolhidos os certificados fomos para a Catedral, agradecer a Santiago o belo caminho que tínhamos acabado de percorrer. Um pouco da historia. Na área atualmente ocupada pela catedral existiu um povoado romano que geralmente se identifica com a chamada mansão de Asseconia, situada à beira da estrada romana identificada como Via XIX no Itinerário de Antonino, que ia de Bracara Augusta (atual Braga) até Astúrica Augusta (atual Astorga). Este povoado existiu entre o século I d.C. e o século V, mas ali permaneceu uma necrópole que possivelmente foi usada durante Reino Suevo e até ao século VII.
A fundação da cidade está ligada à alegada descoberta dos restos mortais do apóstolo Santiago Zebedeu, ocorrida em 812 ou 813 ou ainda, segundo outras versões ou estimativas, entre 820 e 835 ou entre 818 e 842, que deu uma importância religiosa crescente ao local. A cidade desenvolveu-se graças à popularidade crescente como destino de peregrinação e, a partir do século XVI, também à criação da
28 universidade. Na atualidade a cidade deve também parte da sua importância ao estatuto de capital da Galiza.
Segundo a tradição medieval, cujo registo mais antigo aparece na Concórdia de Antealtares (1077), o eremita Pelágio (ou Paio), alertado por luzes noturnas que avistou no bosque de Libredão (
Libredón) avisou o bispo de Iria Flávia, Teodomiro, que deslocando-se ao local descobriu um sepulcro de pedra onde está agora a catedral. No sepulcro repousavam três corpos, que o bispo identificou como sendo de Santiago Maior e de dois dos seus discípulos Teodoro e Atanásio. Fizemos os rituais característicos tais como, dar o abraço ao Santo, sentar e fazer uma oração e, voltar para o recinto exterior. Depois de estarmos todos cá fora, era hora de partir para o Albergue. Seguimos em direção ao parque de estacionamento, desmontamos as rodas às bicicletas para as pôr na carrinha e fomos em direção a Muxia. Fomos andando até à Vila de Negreira, ficamos no Albergue de São José. Este Albergue já tinha outro tipo de condições, o preço é o dobro, mas tínhamos direito a lençóis e toalha de banho, os quartos eram reduzidos com oito camaratas o que permitia maior sossego. Depois de feitas as camas, e trazer as coisas necessárias para o jantar, a Augusta, a Helena e a Lenita foram tomar banho enquanto eu e o Jorge íamos organizando as coisas na cozinha a qual estava equipada com todos os eletrodomésticos necessários ou indispensáveis numa boa cozinha. De seguida tomamos o nosso banhito e como o jantar estava um pouco atrasado, fomos comprar cigarros para o Jorge, andamos uns duzentos metros e encontramos um café e qual o nosso espanto tinha um reclame à nossa cerveja "super book" sentamos e pedimos duas, mais espantados ficamos quando o empregado juntamente
29 com as cervejas trazia umas azeitonas e uns salgadinhos. Estávamos numa amena cavaqueira quando o empregado volta novamente com duas sandes de paio aquecidas para nós, disse ser uma simpatia da casa, com tanta coisa para comer tivemos de pedir mais duas cervejas. São estes pequenos gestos em que os Espanhóis estão muito à nossa frente. Depois do jantar em família, com o cansaço a apoderar-se de todos fomos para as nossas camas, devo dizer que dormir debaixo de lençóis limpinhos e fresquinhos com fronhas e tudo, foi tira e queda, acordei de manhã, já com o barulho embora diminuto de outros peregrinos que iriam fazer a caminhada e já eram horas de partir. Por falar de peregrinos e peregrinação, encontrei um pensamento que achei interessante e que partilho aqui. O caminho do peregrino é uma coisa muito boa, mas é estreito. Porque a estrada que nos leva à vida é estreito; por outro lado, a estrada que leva à morte é largo e espaçoso. O caminho do peregrino é para aqueles que são bons: é a ausência de vícios, o impedimento do corpo, o aumento das virtude, perdão para os pecados, o pesar para o penitente, o caminho dos justos, amor dos santos, fé na ressurreição e a recompensa dos abençoados, uma separação do inferno, a proteção dos céus. Afasta-nos de comidas saborosas, faz a gordura gulosa desaparecer, evita a volúpia, constrange os apetites da carne que atacam a fortaleza da alma, limpa o espírito, leva à contemplação, torna modesto o arrogante, eleva os humildes, ama a pobreza. Odeia a repreensão dos que se movem por ganância. Ama, por outro lado, a pessoa que dá ao pobre. Recompensa aqueles que vivem na simplicidade e fazem boas ações; e, por outro lado, não arrasta aqueles que são avarentos e iníquos das garras do pecado. No cristianismo, a contemplação se refere a um pensamento limpo direcionado à realização da presença de Deus como algo real. A meditação, por outro lado, foi, por muitos séculos, especialmente no ocidente, referida como exercícios ativos (como visualizações de cenas bíblicas ou a "lectio divina" - a prática de ler a Bíblia. São textos de grande sensibilidade e profundeza, que tocam na nossa alma, algo intrínseco, deveriam parar e refletir, nestas palavras cheias de significado e intencionalidade.
30 5ª Etapa
Santiago – Negreiro- Muxía- Finisterra
A partir de Santiago a peregrinação foi feita de carro, porque o tempo que estava estipulado para esta peregrinação estava a ficar esgotado e, como tal, também já fazia parte do plano, este percurso ser feito de automóvel. Seguimos quase sempre pela estrada nacional, passando por pequenas vilas e localidades até Muxía. E, deparamo-nos com um cenário idílico, algo verdadeiramente encantador, indiscritível, dificilmente encontramos palavras para descrever tanta beleza que os nossos olhos estavam a ver.
O
cabo Touriñán é o ponto mais ocidental da Galiza e da Espanha peninsular. Situa-se no concelho de Muxía na província de A Corunha. Este sim, é considerado o ponto de Espanha mais ocidental, porque o da Península Ibérica é o Cabo da Roca., e não o de Finisterra. Muxia tem muito para se ver. É realmente uma cidade linda e tem algumas praias deslumbrantes podendo-se destacar as praias de Muinos, Cruz, Lago, Lourido e Nemiña.
A principal e mais famosa atração turística de Muxia é uma pedra de formato estranho que fica em um afloramento de rocha imprensado entre uma antiga igreja e o oceano. A forma ea posição dessa pedra longa, estreita e ligeiramente curva é tal que um ser humano pode facilmente ficar por baixo, e isso levou a uma das muitas histórias folclóricas da Galiza evoluindo em torno dele.
31 Alega-se que a pedra tem tudo de poderes de cura (alívio da dor nos rins) para auxiliar na conceção de filhos, e tudo conseguido simplesmente em pé ou agachado por baixo.
Verdadeira ou não, a pedra é agora bastante famosa e a sua posição, na frente das ondas do mar, torná-lo um espetáculo. Há um festival que inclui referências à pedra e os seus poderes, que ocorre anualmente na montanha acima da igreja adjacente.
A igreja acima da pedra mítica é outro deleite visual, por dentro e por fora, e há uma pedra abstrato estranho monumento na colina acima dela. A área também tem uma série de percursos pedestres, todos com vistas deslumbrantes sobre a costa irregular de Muxia. O santuário Virgem da Barca é um dos locais mais emblemáticos da adoração na Galiza. A origem do santuário remonta ao século XII
. Desde os tempos antigos é comemorado no mês de setembro, a peregrinação da Barca Muxia, uma festa antiga que reúne um grande número de fiéis de todas as partes da Galiza e até mesmo pessoas de fora que vêm para o Santuário de la Barca para subir à pedra com os poderes curativos. Esta igreja, há uns anos atrás, numa noite de temporal que se abateu nesta zona, um raio caiu sobre o templo, provocando um grande incêndio, que veio a destruir grande parte da igreja, incluindo os seus altares riquíssimos e sua arte sacra. Encontra-se agora em fase de restauro. Devido a esta costa ser muito recortada e formando pequenas e grandes baías, existem inúmeros faróis como este atrás de nós. A vieira que 32 indica o fim da terra e da caminhada, único marco em que a vieira está apontada para o chão.
Em cima das pedras, de frente para o mar, está a obra "A Ferida" que demorou seis meses para ficar pronta e o resultado é um grande monólito de mais de onze metros de altura, dividido em duas partes, e simboliza a ruptura, o impacto que representou o acidente do "Prestige" para a costa galega.
Através da fenda pode-se ver o mar e a obra é observada também ao longe pelos barcos que se aproximam da terra, e para que os seus tripulantes não esqueçam o impacto da maré negra e a enorme solidariedade em que se empenharam tantos voluntários.
Segundo relatos, este desastre que foi sem dúvida dos maiores que aconteceram por esta zona, é demonstrativo o quanto o mar aqui, é deveras perigoso.
Continuamos a nossa viagem peregrina em diração a Finisterra, local de grande simbologia para os peregrinos, não tanto da era moderna, mas sim dos tempos antigos. Fomos andando e apreciando a beleza deste local, que é fantástico, digamos que é uma simbiose perfeita entre a terra e o mar. À medida que nos aproximavamos de Finisterra, iam aparecendo monumentos ao peregrino assim como este, que fotografamos mesmo em andamento. É lamentável que ao longo dos anos de peregrinação a Fátima, um dos maiores santuários Marianos, não exista nada parecido, nem um só monumento aos peregrinos. E não são tão poucos aqueles que por variadíssimas razões se propõem a realizar tamanho sacrifício, por conseguinte deviam ser alvo do afeto de todos os responsáveis, tanto civis, como religiosos. Mas deixemo-nos de considerações e continuemos a nossa viagem. A certa altura começamos a subir uma serra que nos
33 levaria até ao farol de Finisterra. Estacionamos a carrinha no parque e, saímos para admirar a paisagem que tinhamos de frente do nosso olhar, devo confessar que ao parar a caminhada e observar a imensidão do mar, somos apoderados de uma tranquilidade indescritível, será um momento de reflexão e de contemplação únicos, que devemos viver e interiorizar.
Depois deste pequeno e, importante momento, seguimos para visitar o marco, que simboliza o fim da peregrinação igual ao que encontramos em Muxía, com a placa indentificativa do quilómetro zero, como está demonstrado na foto, assim como alguns objetos deixados pelos peregrinos.
E seguidamente fomos até à ponta do rochedo por detrás do Farol, onde, em vários locais se podem ver, sítios onde se queimam as roupas velhas que depois de reduzidas a cinzas, estas serão deitadas ao mar. Nós como não podia deixar de ser e, para manter a tradição, fizemos também uma queimada de alguma roupa e chinelos velhos gastos, no caminho.
34 Algumas curiosidades de FINISTERRA Castelo de São Carlos — fortificação defensiva, mandada construir durante o reinado de Carlos III de Espanha para defender a costa dos ataques de navios inimigos. Igreja de Nossa Senhora das Areias (Nosa Señora das Areas) — construída em finais do século XII, sofreu várias modificações e ampliações durante vários séculos. Devido a este historial, nela se encontram os estilos, românico, gótico e barroco, que correspondem a distintas intervenções arquitetónicas de que foi objeto. É nesta igreja que se encontra a imagem do Santo Cristo de Finisterra — o "Cristo da Barba Dourada" — diante do qual se prostravam e prostram os milhares de peregrinos que chegam a Finisterra para finalizar o Caminho de Santiago, depois de terem visitado o túmulo do apóstolo em Santiago de Compostela. Segundo a tradição, ali devem queimar as roupas, tomar banho no mar e voltar aos seus lugares de origem como "homens novos", depois da peregrinação.
Farol de Finisterra — é o farol mais importante da Costa da Morte, pois com a sua luz guias os barcos que navegam nestas águas perigosas durante os temporais e através dos baixios e recifes que ali existem que podem causar naufrágios pelos quais a região é conhecida. O edifício atual é de 1868 e é o lugar mais visitado da Galiza a seguir à Catedral de Santiago de Compostela. Praia de Langosteira com quase três quilómetros de extensão, é a praia mais turística do município e a mais visitada da Costa da Morte Praia de Talón — é uma praia de grande beleza, de águas cristalinas e tranquilas, de onde os peregrinos avistam pela primeira vez o cabo Finisterra. É a vista mais famosa da vila. 35 Segundo o Códice Calixtino, uma vez desembarcados os discípulos do filho de Zebedeu em Padrón com o corpo do Apóstolo, Lupa rainha daquelas terras, enviou-os a Duiu para que o legado romano lhes concedesse a permissão para enterrar o Apostolo. Este, com intenção de mata-los, encarcerou-os, sendo libertados por um anjo conseguindo fugir. Quando estavam a ponto de serem alcançados pelos soldados que os perseguiam, cruzaram a ponte de Nicraria (identificada como a ponte romana de Nos, hoje sob as águas da albufeira da barragem de la Maza), que desaba, providencialmente, ao passar das tropas. Foi nessa época quando começaram a chegarem a Finisterra e Muxía os primeiros peregrinos cristãos, chegada da qual temos conhecimento desde o século XII, através de um documento de doação ao Mosteiro de São Xian de Moraímo efetuado pelo rei Alfonso VII, no qual constava alusão a passagem dos peregrinos por essas terras.
Nos séculos posteriores existem vários testemunhos de peregrinos que se acercaram da Finisterra Galega. A situação dos Hospitais de acolhida dos caminhantes também é outro dado que nos confirma a existência de uma Rota Jacobea que partindo de Santiago chegava a Finisterra e Muxía.
Visitar a Costa da Morte significa chegar ao fim de um velho caminho de peregrinação pelas terras mais ocidentais da Europa, seguido por milhares de pessoas ao largo de muitos anos, para encontrar-se com o renascer da vida, com velhos cultos pagãos e os elementos da natureza, que aqui se manifesta com todo o seu esplendor: a água, o sol e as pedras; que cristianizada mais tarde, deram, origem a concorridos santuários como o da Virgem da Barca, o Cristo de Finisterra, ambos relacionados com a Rota Jacobea.
Com este relato histórico chegamos ao fim da peregrinação propriamente dita. Descemos ao centro da Cidade, para almoçar 36 e ir receber o certificado de que estivemos no fim da terra. Demos uma volta pelo centro, também serviu para localizarmos o albergue onde seria passado o certificado. Escolhemos um restaurante onde fomos almoçar, enquanto esperamos que o albergue abrisse pois só seria por volta das duas horas da tarde. Reunidos os certificados, iniciamos o caminho de regresso a casa. Tínhamos recolhido informação de que ao longo desta bonita costa, poderíamos encontrar, uma lindíssima queda de água do rio Ézaro que ficava junto a uma central hidroelétrica na Vila de Dumbría e, um espigueiro situado na vila de Carnota que tem um tamanho considerável, para além das lindíssimas praias, que nos foram aparecendo durante este percurso, que iam fazendo as delícias do nosso olhar.
Aqui fica retratada uma das mais belas praias que existem por aquelas paragens.
Este aqui, é o maior espigueiro que nós alguma vez avistamos, é sem dúvida uma verdadeira obra de arte. É semelhante aos que podemos ver no alto Minho, como os do Soajo, mas de uma grande dimensão, pois aqui este, é comunitário, é de toda a aldeia de Carnota.
37 Reflexão Aquele que percorre o caminho estreito da peregrinação, sente-se aliviado e, satisfeito na sua plenitude. É estreito porque a estrada da vida é simples, e tem por objetivo a fé no que acreditamos. Por conseguinte é para peregrinos bons, será a ausência de vícios, a restrição do corpo, a elevação das virtudes, a reflexão dos pecados e por consequência o seu perdão, a interiorização da penitência, percorrer o caminho dos justos, o amor dos santos, fé na ressurreição e recompensa dos abençoados e ter a proteção dos Céus. Afasta tudo aquilo que possa enfraquecer a alma, leva á contemplação. A contemplação se refere a um pensamento limpo direcionado à realização da presença de Deus como algo real.
Por outro lado a estrada que nos leva á perdição é larga e espaçosa, porque aqui encontramos, todo o tipo de vícios, que são bem mais apetitosos para os fracos, para ao que não param para meditar, é intrínseco á natureza humana, porque o mal se faz com grande ligeireza, ao passo que o bem, custa muito faze-lo, ou mesmo encontramos grande resistência em realiza-lo.
Para concluir, devo referir que ao longo destas seis peregrinações, damos por nós e sem grande esforço, com este turbilhão de pensamentos, em vários momentos da peregrinação. Devido á sua dureza, ao esforço físico despendido, temos esta perceção quando fazemos as pausas, para saciarmos a cede e a fome, é neste momento que damos conta de estar a refletir em tudo isto. Mas o alimento do pão e da água dá-nos alento para continuar com as forças renovadas.
Deixo aqui um desafio a todos aqueles que ainda não fizeram nenhum destes trilhos, que o façam, pois não deixará de ser uma experiencia única inesquecível que vão viver.
Fernando Ramos

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Neste momento, tínhamos atingido um dos pontos mais alto, e começamos a descer para a ponte de Sampaio. Neste







lugar tivemos o privilégio, de ter uma magnifica vista sobre a baia de Vigo.
Como podemos ver pela foto abaixo a maravilhosa paisagem, que tem este caminho português. Só por isto que para além de ficar na retina e na memoria, ficou bem retratada.



Estamos na ponte de Sampaio, lugar de rara beleza, e de grande valor histórico. Na Ponte de Sampaio, teve origem uma batalha, foi segundo reza a história, um choque bélico que teve lugar, no lugar do mesmo nome, sito no município de Pontevedra nas margens do rio Verdugo, entre uma força conjunta de tropas regulares espanholas e milícias populares galegas que enfrentaram as tropas francesas dirigidas pelo marechal Michel Ney, esta batalha decorreu entre os dias 7 a 9 de Junho de 1809, no palco da guerra da independência espanhola. A resistência dos espanhóis impediu a Nery, que passa-se a ponte sobre o rio, vendo-se obrigado a retirar. E foi neste cenário idílico, que fizemos a pausa para retemperar as forças, para continuarmos o resto da etapa. Nesta fonte paragem obrigatória, para bebermos um bom cantil de água bem fresca e saborosa, não menos saboroso o descanso que também se faz aqui. Continuando a nossa marcha tivemos mais uma momento hilariante desta nossa aventura. Estávamos no quilómetro sessenta e nove, por isso levávamos a língua de fora, devido ao cansaço. Ficou bem retratado o nosso estado crítico, não havendo condições, para justificar esta postura, devo dizer que nos fizeram uma grande maldade, ou seja apanharam-nos bem distraídos. Como diz o ditado a vingança serve-se fria.

terça-feira, 17 de maio de 2011





3º Etapa
De Redondela a Pontevedra

Como verdadeiros britânicos, a saída deu-se pelas sete e quinze minutos como sempre. Tínhamos pela frente uma etapa de grande dureza, não só pelo acidentado do terreno, como também pelo cansaço que se ia apoderando dos peregrinos. Mas para minimizar o sacrifício, no caminho temos agradáveis peripécias assim como o ver este esquilo, proporcionou um bom momento de descontracção. Aumentando a nossa auto-estima, para continuar o nosso caminho.
Paragem para reabastecimento de água fresca. Pois esperava-nos uma subida com uma boa inclinação, necessitando de um bom arrefecimento. Ao chegar a Mós tivemos a nossa primeira prova de esforço, quase cheguei ao cimo, em cima da bicicleta, faltando só um “danoninho”. Chegado ao alto se me punham a mão na boca caía de imediato, devido a elevada aceleração do ritmo cardíaco. Prova superada, para recuperar os níveis ficamos à espera dos nossos companheiros. Digamos que esta montanha, era o aquecimento para a que vinha a seguir. Pela experiencia anterior, iríamos ter de subir um monte que tinha um ribeiro, pelo qual teríamos que caminhar. O que para além do grau de dificuldade desta subida, tínhamos de vencer também o a contrariedade de irmos sempre com os pés metidos dentro de água. Aumentando a fruição, dos pés dentro das botas, originando o aparecimento de mais bolhas. O que não se veio a verificar, devido a obras de construção de uma estrada, o referido ribeiro de ter sido desviado para outro local, fizemos a montanha sem o encontrar, o que tornou a caminhada mais fácil, tanto para os caminhantes como para os ciclistas.





Estava-nos reservado à nossa chegada, uma banda que se fartou de tocar. Não nos sabíamos tão importantes, devo referir a cidade estava em festa, era Domingo e dia de comunhão para os mais pequenos, havia feira Medieval, rua toda embelezada com tapetes de flores alegóricos, lindíssimos, captados pelos nossos fotógrafos de serviço. Temos aqui um belíssimo exemplo de um entre muitos existentes, que nos maravilharam com esta arte e engenho, proporcionaram aos seus visitantes.












Temos aqui o Albergue de Redondela, situado no centro histórico desta cidade. Segundo consta Redondela é o segundo maior Município a seguir a Vigo, tal não acontecia desde a idade Média. O relevo redondelano está condicionado pelos montes do Galleiro, a Serra do Suído e os vales dos rios Maceiras e Alvedosa, principais cursos fluviais do território, que desaguam na ria de Vigo. O clima, suave e húmido propicia o desenvolvimento agrícola, nas terras baixas, e florestal e madeireiro, são as suas principais actividades.
A Lenita participou na comédia, de rua do tempo Medieval. Estes actores foram ao longo da tarde representando vários temas entre eles a mais importante a dança do ventre. Tenho de referir que a bailarina tinha uns atributos dignos de registo, para além de dançar bem o que ajudava a compor o cenário.
Eis aqui bem retratado todo o empenho desta bailarina, que por sinal ia deixando “mirolho” o Amadeu de tantas fotos tirar. Devo confessar, que ninguém ficou indiferente há majestosa dança.

terça-feira, 22 de março de 2011



Eis aqui o momento hilariante desta caminhada, quem vir pensa que a Ana vai em direcção a Fátima e não para Santiago, como era o objectivo desta peregrinação. A Lenita mais parecia que estava a saltar às cordas. O Amadeu bufava por todo o lado.





A Paula, cheia de saudades do mais que tudo, que tinha deixado em Portugal. Chorou baba e ranho, durante a viagem toda, isto é, só quando se lembrava, de outra forma, penso que nem se lhe passava semelhante ideia pela cabeça. Mas devo confessar que me surpreendeu, pois foi uma caminhante exemplar, não se queixou, não teve bolhas, o que aliviou a carga de trabalho, ao Zézito, no entanto teve alguma fadiga muscular o que não admira devido ao enorme esforço a que foi sujeita. Acompanhou sempre a boa bebida, não deixando os seus créditos por mãos alheias.


Continuamos a nossa caminhada, e sentindo as dificuldades que a Ana poderia ter, começamos por voltar atrás ao seu encontro, tomando assim maiores precauções, sabendo que a Lenita vinha sempre com ela, nunca a deixando só. Para prémio de consolação de ter conseguido chegar um pouco mais longe, resolvi dar-lhe uma medalha, como no meio do monte, entre outras coisas para oferecer seria uma pinha, ficando bem retratada neste momento. Entrada no concelho de Redondela



Quando chegamos aqui, depois de termos descido um caminho de inclinação de mais de doze por cento, o que obrigou os travões das bicicletas a ferver, fizemos uma pausa para os mesmos arrefecerem, e desta forma esperamos pelos nossos caminhantes. Aqui surgiu uma episódio hilariante, à medida que iam chegando os nossos peregrinos eis que surge a Ana a andar de marcha a trás, risota pegada, mas com justificação, como os seus pés, cada vez mais pioravam, o descer de frente forçava o dedo grande que começava a ficar com a unha pisada, provocando mau estar e alguma dor. Como diz o ditado “quem não tem cão caça com um gato”.