CAMINHADA 2008

O Caminho de S.Tiago
A ideia de fazer o caminho português de Santiago, foi incutida por minha filha, pois já o tinha realizado, integrada no grupo de escuteiros o VI do Bonfim, do qual ela fazia parte.
Estávamos no final de 2007, num almoço com nossos tios e primos, foi aí que a ideia amadureceu e ganhou forma. O meu filho Zezito e a namorada Luísa, foram os primeiros a apoiarem. O nosso tio Fernando, especialista na matéria, pois já tinha realizado duas vezes a peregrinação a Fátima. Mostrou logo interesse nesta aventura.
Eu virei-me para meu primo Carlos, perguntando se estava interessado em ir. Este de porte esquelético, bastante habituado a percorrer longos km de automóvel, hesitou por momentos, e contra propôs, ir mas de bicicleta.
Eu por solidariedade para com ele, disse que o acompanhava, trataríamos da logística, facilitando assim a vida ao restante grupo. Como não sabíamos em que condições, estariam os albergues para a realização de refeições. Teríamos de levar alguns utensílios de cozinha. O que se tornaria um fardo ao longo da caminhada. Por conseguinte aliviaríamos a carga aos caminhantes, transportando-as nas nossas bykes.
Perante tal cenário reformulou-se o grupo da seguinte forma: o Zézito, a Luísa, a Lenita e o Tio Fernando iriam a pé, com uma pequena mochila, onde levaria a roupa para muda e o saco cama. Os ciclistas, iriam levar os restos das coisas, isto é, para além da nossa roupa, teríamos de levar ainda, um tacho, um fervedor, pratos, canecas e uma pequena caixa com utensílios de cozinha. Tivemos de preparar as bicicletas para levar este excesso de carga, a minha carga pesava cerca de 25kg, a juntar aos meus insignificantes 111kg.
Em frente à estação de Valença, de onde iniciamos a nossa caminhada.





1ª Etapa
De Valença ao Porrinho
Assim chegado o dia, lá partimos de carrinha até Valença, onde chagaríamos por volta das 6,30h da manhã. Aqui chegados era hora de montar a as mochilas nas bykes, em quanto outros tratavam de por os carimbos na Credencial, na estação de Valença.
Tirada a foto da praxe, e as despedidas, sim porque a nossa motorista, a Augusta a minha esposa viria embora, com muita pena de não poder realizar esta caminhada, por
motivos de saúde, entre outros o ADN (Afastamento da data do Nascimento).
Os caminhantes foram os primeiros a partir, eu e o Carlos como tínhamos mais tempo, ainda fomos a um café, aliviar as necessidades
mais prementes. Quando nos preparávamos para partir, nesse preciso momento começa a cair uma morrinha que foi aumentando de intensidade. Toca a vestir os impermeáveis e seguir viagem. Por volta das dez e trinta minutos a chuva começou a dar tréguas. Já tínhamos percorrido uns bons km, porque andávamos atrás e á frente a ver se os nossos caminhantes precisavam de algo. Olhando para o relógio, verificamos que já eram 11h, estava na hora de começar a procurar um lugar onde pudéssemos comprar mantimentos para a nossa refeição.
Chegados a um largo, procedendo de um caminho entre campos, demos de frente com um restaurante que se encontrava fechado, mas no exterior encontrava-se umas cadeiras e uma mesa de plástico, de baixo de uma varanda. Olhando á nossa volta, deparamos com uma casa á nossa esquerda, com portas de madeira e envidraçada pela parte de cima. O que deu para entender ser um pequeno comercio. Dirigimo-nos para lá e, constatamos efectivamente tratar-se de uma pequena mercearia. Despimos os oleados, porque entretanto tinha deixado de chover, e posemo-los a secar, juntamente com as luvas e o capacete, que já estava a tornar-se um pouco incómodo. Entramos nesta superfície comercial tradicional, onde se vendia quase tudo. Pois tinha fiambre, salsichão, queijos, vários tipos de chouriços, presunto e bebidas, pão, etc. Local ideal para fazermos uma refeição ligeira, como aconselha este tipo de caminhada. Como estávamos com fome, fomos comer uma sandes e, esperaríamos pelos outros que, pelos nossos cálculos estariam a cerca de uma hora daquele lugar. Minimizada a nossa fraqueza, era hora de um merecido descanso, sentados e encostados na parede da casa, e a receber por entre umas nuvens negras um raiozito de sol, que nos ia aquecendo.
De repente eis que surge no largo um casal de peregrinos, que pararam e observaram o lugar e, sem demora dirigiram-se para as cadeiras, do tal restaurante que se encontrava á nossa frente. Ele, homem de aspecto mediano, cabelo grisalho, de bigode e pêra mais parecia o Dartanhgam. A senhora também mediana e de cabelos grisalhos, munida com o seu batom, lá se instalaram e de dentro das suas mochilas retiraram a sua alimentação. Devido á distancia a que nos encontrávamos, não sabíamos exactamente o seu conteúdo, mas pelos cálculos não andaria muito longe da nossa. Foi neste entretanto que começou por chegar a Lenita e o tio Fernando, este foram escolher a sua refeição e descansar um pouco. Dez minutos depois chega o Zezito e a Luísa, esta um pouco atrapalhada devido a uma bolha que já tinha ganho. Toca de tirar as botas e por os pés em descanso, pois ainda faltava sensivelmente outro tanto para andar. Depois de uma boa hora de descanso para os últimos é, chegada a hora da partida até ao albergue do Porrinho. Devo esclarecer que o trajecto em causa é bastante recto, não tendo desníveis acentuados, que pudesse dificultar o resto da caminhada.
Chegada ao centro histórico de Porrinho, demos uma volta de reconhecimento para tirar umas fotos do local. Estávamos sentados num daqueles bancos típicos de pedra mesmo no coração da Vila. Por incrível que pareça, já ter passado varias vezes nesta localidade e não me ter apercebido que o seu centro histórico ter tanta beleza.
Mas como estava a dizer encontrávamos ali sentados, a ver azafama das pessoas de um lado para o outro. Deparamos mesmo de frente a nós e, numa porta ao lado da edilidade havia um cartório e, nesse preciso momento começaram a chagar pessoas vestidas cerimonialmente, despertando em nós a atenção. Comecei por dizer ao Carlos, para nos misturar com os convidados, assim poderíamos ter a sorte de irmos para a boda. E nesse caso para além de satisfazermos a nossa fome, não teríamos o trabalho.
Quando o restante grupo se juntou, os nossos ilustres caminhantes o que mais queriam era um plano horizontal para descansar dos kms, que já tinham nas pernas. Dirigimo-nos para o albergue e depois das formalidades na recepção, fomos para as nossas camaratas descansar um pouco.
2ª Etapa
Do Porrinho a Redondela.
Alvorada às seis horas da manhã, tomado o pequeno - almoço, mochilas nas costas e cajado nas mãos iniciando assim a caminhada. Os ciclistas estes com mais tempo, mas também com maior numero de coisas para arrumar, ajustando tudo muito bem nas bicicletas é chegada a hora da partida. Fomos lentamente apreciando aquele cenário encantador do centro histórico.
Saímos da Vila, aqui uma parte do percurso é feito na estrada nacional nº 555, é uma estrada bastante movimentada, o que se torna um pouco perigoso para os ciclistas do que propriamente para os caminhantes. Mas logo aparece a concha ou a seta amarela orientando-nos para estradas e caminhos secundários, passando por pequenos aglomerados de casas. E assim se vai serpenteando a estrada nº 555.
Ao passar na localidade que dá acesso ao Castelo de Souto Maior, onde foi o casamento do Berto, sobrinho da minha prima espanhola, e no qual eu e minha esposa Augusta estivemos presentes. Aqui fizemos uma pequena pausa à espera dos caminhantes. Enquanto esperamos lembrei-me de ir carimbar as credencias ao posto da policia local. Um pouco de propósito, pedi ao Carlos para ser ele a fazer esatarefa. Com um sorriso amarelado como quem diz, eu até ia mas o teu espanhol é melhor do que o meu. Como não se fazia á vida, lá fui eu. Encontrei um agente simpático, e ao ver tantas credenciais e uma só pessoa olhou para mim, e eu de pronto disse que fazia parte da logística e estávamos á espera do restante grupo. No final desejou-nos uma boa caminhada.
Durante esta caminhada, fomos passando pelo casal que tinham estado a almoçar no dia anterior perto de nós e, sempre que nos cruzávamos eles sorriam. Estávamos perto de Redondela, encontramos uma mercearia na estrada nº 555, aí compramos massa e bebidas para uma das refeições. Chegados, a Redondela fomos direitos ao albergue, este ficava situado no centro da vila numa torre menagem, toda restaurada para o efeito. Esperamos por ali pelo restante grupo, que chegaram por volta das 13h, demasiadamente cansados, principalmente a Luísa que arrastava mais os pés por excesso de cansaço. Tomamos banho almoçamos ração de combate, e tratamos do pés da Luísa. É aqui que a Sr. Francesa ao ver o estado lastimoso daqueles pés, se prontifica a ajudar. Devo referir que o nosso francês é um pouco rebuscado, mas lá foi dando para nos entender. Foi neste nosso diálogo mais prolongado, ficamos a saber que os nossos amigos já vinham a andar desde Portugal.
Era Domingo e em Espanha a partir das 13h o pequeno comercio fecha, dificultando as compras. Demos uma volta por ali e nada encontramos aberto, para além de cafés e restaurantes que estavam ao serviço. O meu companheiro
de viagem, o Carlos e a Lenita resolveram dar uma volta pela Vila. Com o intuito de ver se encontravam alguma coisa aberta onde se pode-se abastecer. Enquanto isso o restante grupo ficou numa esplanada, relativamente perto do albergue, a apreciar os indígenas daquela localidade. Pelo visto as famílias passeiam-se ali em volta, até á hora do lanche. Entretanto chegam os nossos estafetas desiludidos, por não terem encontrado nada. Ou seja o melhor que viram, foi uma casa onde se vendia comida já confeccionada. Como tínhamos comprado massa, era mais um fardo para nós. Eles lembraram-se de comprar costelas assadas, que dava para comer com a massa. Jantamos, arrumamos tudo, e era hora de dormir pois tínhamos ao outro dia uma dura etapa.



3º Etapa
De Redondela a Pontevedra.
Uma das mais duras etapas foi sem dúvida a chegada a Pontevedra, não só pelo desnível acentuado, como também por ironia do destino, a chuva que se fazia sentir nesse dia.
Esta conjugação de causas naturais, provocaram, um desgaste físico e anímico no grupo. Mesmo para nós ciclistas, tivemos aqui uma prova á nossa capacidade de resistência. Na medida que tivemos de ultrapassar obstáculos, que por si só, já tinham um grau de dificuldade grande indo a pé, mais ter de empurrar as bicicletas pelo monte acima, num trilho donde mais parecia um ribeiro, onde tínhamos de saltar de pedra em pedra, para evitar molhar muito os pés. A certa altura desta caminhada, que senti um enorme desespero, dando-me ganas de atirar com a bicicleta mochila e tudo pelo monte abaixo. No entanto, tão depressa passam estas coisas pela cabeça, como no momento seguinte, como por magia, retomamos a nossa serenidade acrescidos de uma força enorme para continuar. Chegados ao cimo da montanha, paramos para contemplar mais uma, das muitas belezas naturais que fomos encontrando nesta nossa caminhada. Assim se ganha novo alento para se terminar a dura etapa. Deliciando os olhos, nesta beleza que a natureza se
encarregou de nos dar, e por vezes os homens tem a tentação de a estragar, motivados pela ganância, não olhando a meios para atingir os seus fins lucrativos.
A caminhada em peregrinação, para além da sua componente religiosa, tem também a sua componente lúdica, de forma a nos proporcionar momentos de rara beleza á medida que a caminha se vai fazendo. Passando por aldeias, vilas, atravessando ribeiros e rios lindíssimos, subindo e descendo montes de paisagens deslumbrantes. Encontramos dois grupos de pessoas, extraordinariamente simpáticos, prontos a ajudar, visto que, ao fim de algumas horas de caminhada já havia no nosso grupo, mais precisamente a namorada do meu filho, a Luísa com uma bolha nos pés. Essas pessoas de pronto tiveram a delicadeza e o carinho em tratar dos pés da Luísa. Num desses grupos viajava um casal de meia idade, de nacionalidade francesa. Ele, homem de aspecto mediano, cabelo grisalho, de bigode e pêra mais parecia o Dartanhgam. A senhora também mediana e de cabelos grisalhos, com o seu batom, caminhavam com passada curta
mas enérgica e lá seguiam o caminho paulatinamente.
Chegados a Pontevedra, de tanto cansaço, de tanta sujidade de lama e sapatilhas encharcadas que tínhamos, só queríamos um banho quente, uma boa refeição e um soberbo descanso. Para nossa provação, o Albergue encontrava-se fechado, na porta encontrava-se um papel com o horário de funcionamento, onde se podia ler que a sua abertura era às 4 horas locais. Com só eram 12 horas, tínhamos de esperar um bom bocado. Os nossos caminhantes também não tinham chegado, pelas nossas contas faltaria entre uma hora e hora e meia sensivelmente. Em frente ao Albergue existia um café que servia refeições económicas, e tinha uma explanada de onde se podia avistar a rua por onde iriam chegar o resto da equipa. Eu e o meu primo resolvemos ficar por ali, tiramos as sapatilhas encharcadas e as meias, e calçamos as sandálias, sentados nas com as pernas esticadas noutra cadeira ali permanecemos tranquilos pelos outros membros do grupo. Pedimos uma água para saciar a nossa sede, enquanto saboreávamos esta deliciosa bebida, senta-se na mesa ao lado uma senhora, que aparentava ter muito perto dos sessenta anos, com uma bebé ao colo. Quando demos por nós estávamos ali a conversar, com a senhora que nos foi perguntando de onde éramos, e chegamos à conclusão, que esta simpática senhora para além de ser a dona do café, também era portuguesa e transmontana, mais propriamente de Bragança. É nesta altura que lhe digo ter também uma costela transmontana, por ter adquirido uma casa no Nordeste transmontano, mais precisamente em Freixo de Espada à Cinta. A senhora recorda aqui com alguma nostalgia a suas origens, e disse-nos possuir ainda uma casita em Bragança.
Neste preambulo todo nem demos pelo tempo passar e, nesta altura começam a chegar algum peregrinos, os nosso casal francês, ao ver-nos ali sentados pararam, e no nosso francês arcaico lá conseguimos dizer, que o Albergue se encontrava fechado abrindo só por volta das 4 horas da tarde. Resolveram fazer-nos companhia e, sentaram-se ao nosso
lado. Até que chegou a Lenita e o tio, mais tarde chegou a Luísa e o Zé, estes, mais a Luísa trazia os pés num mísero estado. Escolhemos a refeição e, saboreamos com todo o gosto, pois sem o trabalho de a fazer, pareceu-nos que nos soube melhor. Decidimos que iríamos fazer um arroz de frango para o jantar. Foi nesta altura que propôs convidar o referido casal francês, para jantarem connosco. Formulado o convite e aceite por eles, foi só organizar a logística, isto é. Quem iria às compras na minha vez, pois eu estava demasiado cansado para fazer mais uns km de bicicleta. O Carlos rapaz novo e cheio de pica, era voluntário à força, e a Lenita pois como ia na byke, já não custava tanto também se propôs a ir. Foi neste fim de tarde, já bem estalados no albergue que numa amena cavaqueira, com este casal, tivemos conhecimento que o referido senhor, já tinha percorrido o caminho francês desde a localidade Roncevalles dista de Santiago 750KM, e lhe tinha demorado cerca de 33 dias, sua esposa juntou-se a ele nos últimos 300km, visto que o senhor já se encontrava aposentado e, a senhora ainda trabalhava. Quando nos estava a contar e a mostrar, a Credencial com os carimbos dessa caminhada, foi crescendo em nós o bichinho, que uma vivencia como esta foi entrando no nosso espírito, sem que para isso se tenha feito nada de especial, a não ser a caminhada que nos propusemos fazer. É de constatar também que as pessoas que encontramos, nos albergues que estão à disposição dos peregrinos, têm um comportamento cívico de enaltecer, os caminhos estão bem sinalizados, a gentileza das pessoas que encontramos, nas diversas paragens ao longo do caminho, também é de realçar. Proporciona aos peregrinos uma paz espiritual envoltos numa fé, que em certos momentos da caminhada é necessário ter, para poder transpor as variadíssimas dificuldades, que se vão encontrando ao longo do percurso. Para além disso, serve este tipo de caminhadas de inigualável roteiro turístico, de relevantes pontos paisagísticos únicos, indescritíveis, quando muito retratáveis por um momento fotográfico.






4º Etapa
De Pontevedra a Caldas de Rei
Esta etapa de grau de dificuldade média, pouco desnivelada, passando por pequenas aldeias e serpenteando a estrada nacional n º 555, com destino a Santiago. Esta etapa relativamente pequena, e de certa forma serviu para recuperar da etapa anterior, essa sim tinha-se revelado de grande dureza. Perto da hora de almoço nós os ciclistas tivemos de sair da rota para ir comprar alguns alimentos para a refeição do meio dia. Quando saímos para a estrada em direcção a um pequeno comercio, eis que passa um camionista e apercebendo que éramos peregrinos e estávamos a ir na direcção erra buzinou indicando-nos de seguida a direcção certa. Agradecemos com o levantar do braço, mas conscientes do que estávamos a fazer. No referido comércio compramos queijos, fiambre, tomates e bebidas, para o nosso almoço. Voltamos para a nossa rota, à procura de um sítio para almoçarmos. Foi quando avistamos um ribeiro de água limpíssima e, na sombra de umas árvores paramos à espera do restante grupo. É nesta altura que surge os nossos amigos franceses, que param a descansar e preparam a sua refeição. Entretanto chega o nosso grupo, e sentam-se pelo chão, outros deitados com as pernas pousadas nas pedras do muro, para aliviarem um pouco os pés. Depois de um bom descanso e uma ligeira refeição, há que atacar o resto do caminho, até Caldas de Rei. Esta pequena vila com grandes vestígios da passagem dos romanos por estas paragens, deixaram-nos umas termas de água quente, donde na sua nascente, esta pode atingir os 70 graus. Este lugar faz-nos lembrar a águas quentes e à mesma temperatura na cidade de Chaves, onde existe umas termas também. Chegados aqui, esperamos que o restante grupo chega-se e decidimos ficar por estas paragens, para podermos desfrutar desta maravilhosa Vila. Sabíamos também que não existia nenhum Albergue na Vila, e o próximo seria a mais 12km, o que estava fora dos nossos objectivos. Encontramos uma pensão onde nos instalamos, juntamente com os nossos amigos franceses, e um grupo de alemães que entretanto tínhamos travado conversa no Albergue de Pontevedra. Nesta pitoresca Vila, encontramos uma fonte de água quente e, logo a seguir um lavadouro de água também quente. Aqui desfrutamos de um bom banho para os nossos pés desta água milagrosa. Como o Zezito já tinha percorrido este caminho varias vezes, era conhecedor de um tasco típico desta Vila. O dito tasco era dentro de um antigo moinho, em que os Donos com muito bom gosto o recuperaram, para proporcionarem aos visitantes e, mesmo aos naturais desta Vila, uns bons petiscos próprios desta região. Entre outras iguarias, os filetes de polvo e os muito conhecidos pimentos padron, que fritos em azeite são de se lhe tirar o chapéu. Connosco foram os franceses e os alemães que se fartaram de tirar fotos ao local e mesmo dentro do moinho, e ao lado deste corria um rio de águas limpíssimas. Os nossos estrangeiros agradeceram-nos os termos levado aquele lugar. Chegara a hora da deita porque no dia seguinte tínhamos uma etapa, um pouco dura, pois o cansaço começava a ser notado nos nossos rostos.

5ª Etapa
Caldas de Rei a Padron
Iniciamos a nossa caminhada, pelas 6 horas da manhã rumo a Padron, segundo o Zé é uma etapa de grau de dificuldade média.
Durante este percurso e devido à sua dureza a minha bicicleta pasteleira XY, sim porque a de meu primo é uma byke xpto, nada tinha de parecido com a minha. Bem mas como estava a dizer devido a grande esforço a que foi sujeita ao longo desta nossa aventura, chegou a esta etapa a dar mostra de fraqueza. Três raios partidos e a cerca de 4 km da chegada, num pequeno lugar à sua entrada fiquei sem travões, precipitando-me contra os muros ali existentes. Tendo improvisado travar com o pé, metendo-o entra a roda de trás e o quadro, minimizando assim o embate que resultou nuns arranhões nas pernas e nas mãos. Depois de ter limpo os arranhões num fontanário, lá segui viagem, mesmo sabendo que não tinha travões. Como estávamos perto de Padron, não iria ter grande problema em chegar ao destino sem mais acidentes. Entretanto mais à frente e junto a uma gasolineira estava o Carlos à minha espera, estranhando a minha demora. Depois de lhe ter contado a história demos um jeito nos travões, que ficaram minimamente a travar um pouquinho. O que daria para chegar ao Albergue, pois junto a este existe um oficina onde poderia consertar a bicicleta. O que não podia era andar para trás e ver as necessidades dos caminhantes. Estes foram contactados via telemóvel, para virem até ao albergue, pois em contrapartida lhe iríamos preparar uma refeição quente. Como ainda era cedo, e depois de instalados no albergue, fomos conhecer a Vila, de onde se pode destacar o seu centro histórico, de rara beleza. Depois do grupo reunido e de um bom repasto, alguns elementos foram passear, outros mais cansaditos foram dormir. Devo referir que é nesta localidade, que se encontra a pedra que supostamente serviu para amarrar o barco onde veio a cabeça do Santiago. Era quarta – feira, final da liga dos campeões, entre o Mangester Unait, e o Celcia, como tínhamos descansado umas boas horas, resolvemos ir assistir a este encontro pela TV, num bar desta localidade. Durante o jogo foram-se bebendo uma bejecas que foram anestesiando o Cérbero de alguns e refrescando a garganta a todos. Terminando o jogo voltamos para o Albergue para dormir. O tio vinha na minha frente, subindo as escadas que eram em madeira assim como o soalho, com aquela pequena luminosidade ao chegar perto da sua camarata e, pensando que se estava a deitar na cama, eis que se ouve um estrondo seguido de gemidos tais como ai…ai … ò Zé ajuda-me pois o tio atirou-se para o chão em vez de se atirar para a cama. Foi nesta altura que não podemos conter as nossas risadas, imediatamente caladas pois os outros peregrinos que se encontravam a dormir mandaram-nos calar, e bem pois estávamos a perturbar o descanso deles. Como era eu que ia a trás dele e não o Zé, fui eu que o ajudei a deitar-se. Mas tão depressa gemia de dor como não demorou cinco minutos a mudar o som de gemidos a roucos de um sono profundo.
Refeitos deste momento melodramático para um, satírico para os restantes, lá nos deitamos, pois bem merecíamos um bom descanso, depois de um dia em grande estilo. Por volta das quatro e trinta da manhã, dou por mim a acordar com barulho de uma tossiqueira a qual me era bastante familiar. Levantei-me com vontade de ir ao WC e reparei que meu tio já se encontrava á porta do Albergue a fumar: perguntei-lhe se não tinha sono, e ele respondeu que não e que iria iniciar a sua caminhada. Não conseguindo demove-lo da ideia, lá seguiu viagem. Com esta conversa toda meu primo também acorda entretanto e meio estremunhado ouve o sogro a dizer que já vai. Quando chego perto dele ainda o ouço, a murmurar eles vão e deixam-me aqui? Também vou e começa a levantar-se, é neste momento que chego e disse-lhe: deita-te que ainda é cedo, é só o teu sogro que se vai tem calma, e lá nos deitamos mais uma horita.
6ª Etapa
Padron a Santiago
Iniciamos a nossa caminhada como sempre por volta das seis da manhã. Eu e o meu primo como de costume ficamos para últimos, pois tínhamos de arrumar a louça do pequeno - almoço, dentro das mochilas e bolsas da bicicletas acondicionando bem estas para não se perder nada durante o caminho. Começamos a pedalar e logo um pouco á frente, encontramos os primeiros caminhantes, que por sinal seriam os últimos do nosso grupo. De seguida encontramos a Lenita que seguia paulatinamente a derradeira etapa. Bem lá na frente seguia o tio que tinha saído bem cedinho, e confirmou que se encontrava em perfeita condição. Ficou combinado parar no ponto kilométrico quarto, donde se podia avistar as torres da catedral de Santiago, assim como a parte da cidade, pois este ponto kilometrico encontra-se sensivelmente ao nível da cidade de Santiago. Só que nos esperava uma descida bastante acentuada, assim como uma subida não menos acentuada, que para terminar foi de arrasar as poucas forças que restavam. Mas entretanto durante este percurso, passamos pelos nossos amigos franceses, que nessa noite não tinham ficado connosco, porque queriam chegar cedo a Santiago, para assistir à missa dos peregrinos que se realiza todos os dias por volta das dez da manhã. O que para isso tiveram de ficar num Albergue depois de Padron, possibilitando assim a chegada mais cedo a Santiago. Desejando uma boa caminhada, seguimos o nosso caminho, mais á frente encontramos, os amigos alemães e desejamos uma boa caminhada. Ao passar por uma povoação eu e o Carlos resolvemos parar e descansar e, ao mesmo tempo comeríamos qualquer coisa. Encontramos um café simpático paramos a descansar e a repor os níveis de açúcar no sangue. Estivemos neste café mais de uma hora, o que deu para ver passar os alemães e os franceses, como os nossos ainda estavam para trás, não adiantava nada andar, pois teríamos de esperar no referido ponto kilométrico, fizemo-nos ao caminho, para encontrar um lugar agradável para a recepção ao grupo, onde se iria comer qualquer coisita que levávamos nas mochilas. Ao chegar ao ponto kilométrico paramos, escolhemos um bom sitio à sombra e, esperamos pelos outros, que foram chegando aos poucos, o primeiro foi o tio que já vinha um pouco cansado, aqui teve a oportunidade de descansar e retemperar as suas forças, para os derradeiros kilometros. Esteve um pouco mais de meia hora e seguiu viagem agarrado ao seu pau de caminhante. Passado mais algum tempo, talvez uns quarenta e cinco minutos, chega a Lenita, mas esta nem pára, pois vinha a doer-lhe os artelhos e disse-nos que não ia parar pois para ela seria pior, e lá seguiu o caminho. Entretanto via telemóvel, víamos a saber que o Zé e a Luísa, se encontravam a cerca de uma hora de caminho. Continuamos no nosso posto, tiramos umas fotos, e foram passando outros peregrinos por ali fora. Quando o Zé e a Luísa chegaram, esta vinha mesmo de rastos, os seus pés já estavam pelas costuras, ou seja num estado lastimosos e ainda faltavam quatro kilometros para chegar. Descansaram cerca de meia hora e lá voltaram ao caminho, nós também fomos por ali abaixo, passamos a linha férrea, no fim da descida também passamos uma ponte sobre um rio e começou a derradeira e dificílima subida da cidade de Santiago, passando pelo Hospital. Esta subida demasiado íngreme, mal comecei a a dita desistir de a subir na bicicleta pois o esforço era muito e o meu pobre coração não merecia ser castigado dessa maneira. O Carlos rapaz novo e cheio de pica, lá a foi subindo toda. Eu entretanto fui caminhando e empurrando a byce e dei com o tio parado na berma da estrada a meio da dita subida. O nosso patriarca estava mesmo de rastos, perguntei-lhe se necessitava de alguma coisa disse que não, estava só a descansar mais um pouco, disse que a Lenita já tinha passado. Entretanto cheguei mais ao centro da cidade e, devo ter perdido alguma seta do caminho, dei por mim numa das avenidas principais e segui normalmente até à Catedral. Aqui já se encontrava o Carlos, foi só procurar um lugar para estacionarmos as byces e amarradas para ir visitar a catedral o que fizemos de seguida. Permanecemos dentro desta algum tempo a meditar e, a agradecer o termos terminada esta aventura sem nenhum percalço de maior. Viemos para fora e chega a Lenita bastante cansada, sentando-se à nossa beira, tirou a mochila e foi dentro da Catedral. Estava á espera que chega-se o tio e nada demos umas voltas pela zona e nada entretanto chega o Zé e a Luísa, esta cheia de emoção por ter conseguido chegar ao fim desta dura caminhada. Como o tio não tinha chegado estávamos a ficar preocupados, lembrei-me de dar uma volta junto à Catedral e dou com ele nas escadarias da porta do peregrino. Reunido o grupo fomos com as credenciais pedir a Compostela com o nosso nome. Esperamos na fila cerca de meia hora para obter a mesma, foi com tão grande satisfação que olhamos para aquele simples papel, mas é com enorme orgulho que a recebemos. Feito isto, partimos em direcção à estação ferroviária pois tínhamos de apanhar o comboio de regresso a casa. Verificados os horários, vimos que tínhamos uma hora de espera em Vigo, onde apanharíamos o comboio internacional português, que faz Porto Campanhã Vigo. Chegados a Viana do Castelo por voltas das 20,30h, entretanto a Luísa seguiu viagem até ao Porto, porque teria de ir tratar dos pés que estavam numa lástima, de tal forma que algumas da unhas caíram de tão massacradas que foram. Bem a aventura para terminar foi abençoada, á nossa chegada a Viana chovia que Deus a dava e para cúmulo tínhamos de por as byces em cima na carrinha o que foi mais uma molhadela para terminar em beleza. Mas como diz o ditado quem corre por gosto não cansa, e foi com gosto mesmo que o fizemos.
Foi perante este gratificante cenário, que nos propusemos fazer todos os caminhos de Santiago, mas sempre os últimos 150 km, porque para mais necessitaríamos de mais tempo e neste contexto, a outra parte da família ficaria privada da nossa companhia para as férias.
Pois são episódios como estes, que recordamos alegria e emoção, ficarão bem guardas nas nossas lembranças. Lembrei-me de registar estes momentos únicos, para serem um dia partilhado pelos meus netos e familiares.
Um muito obrigado a todos os participantes nesta louca aventura.