CAMINHO FRANCÊS

Índice
Introdução
O Caminho Francês
1ª ETAPA
Pedrafita do Cebreiro/ Cebreiros- Tricastela
2º ETAPA
Tricastela a Sarria
3ª ETAPA
Sarria a Portomarim
4º ETAPA
Portomarim a Palas de Reis/Melides
5ª ETAPA
Melides / Árzua / Monte Gozo
6 ª ETAPA
Monte Gozo / Santiago

1. Introdução
O caminho francês, é o itinerário mais conhecido e com maior tradição das peregrinações até Santiago. O seu traçado através do norte da Península Ibérica, ficou registado definitivamente em finais do século XI, graças ao empenho e à promoção dos monarcas como Sancho II O Maior e Sancho Ramirez de Navarra e Aragão, assim como Afonso VI e seus sucessores. As principais vias deste caminho em França e Espanha foram descritas com precisão em 1135, no Codex Calixtinus, livro fundamental do acervo jacobeu.
O livro V deste códice constitui um autêntico guia medieval da peregrinação a Santiago. Nele se especificam as etapas do caminho francês desde as terras gaulesas e se informa detalhadamente sobre os santuários do trajecto, a hospitalidade, as suas gentes, a gastronomia, as fontes, os costumes locais entre outros. Tudo está escrito em síntese e clareza a uma resposta prática a um desejo concreto. Devo referir, que este livro se encontra actualmente na biblioteca da catedral, e o seu acesso é restrito.
Este guia, atribuído ao clérigo francês Aymeric Picaud, evidencia o desejo político e religioso em promover o santuário compostelano e facilitar o acesso até ele, mas também demonstra a existência de uma procura deste tipo de informação. Enquanto era escrito este livro as peregrinações no caminho francês atingiam o seu máximo apogeu. Santiago converteu-se na meta de peregrinos procedentes de todo o mundo cristão. Sucedia isto com tal intensidade que um embaixador muçulmano chega a assinalar que “ a multidão de fiéis que se dirige a Santiago e a dos que regressam é tão grande, que quase não há calçada em direcção a ocidente”.
Com o passar dos séculos, e os avatares políticos e religiosos europeus, o itinerário físico do caminho francês perdeu peso específico. Será só em finais do século XIX, que irá ressurgir um renovado interesse pela temática jacobeia, que continua na segunda metade do século XX, com a progressiva recuperação do velho itinerário, reconhecido internacionalmente como um dos símbolos históricos da unidade europeia.
1. O Caminho Francês


Toda esta aventura foi devidamente programada desde, a rota a seguir até Pedrafita do Cebreiro. Que fica sensivelmente a quatro quilómetros de distância da localidade de Cebreiro lugar de onde iríamos iniciar a nossa peregrinação. Ficamos em Pedrafita devido à hora avançada a que iríamos chegar, tal como aconteceu. Porque nos albergues dos peregrinos, estes fecham às dez da noite, em Espanha que são nove em Portugal. Como saímos de Gondomar pelas dezanove a trinta minutos, em direcção a Chaves/ Verim, entrando em Espanha, fizemos uma pausa em Agudina, onde jantamos um bocadilho. Seguimos viagem passando por Viana do Bolo, à saída da localidade estava a guarda civil, que nos mandou parar. O Zé que era o condutor, disse logo que éramos peregrinos e íamos ficar a Pedrafita, o guarda riu-se e mandou-nos seguir viagem, desejando um bom caminho. Continuamos a nossa viagem até à localidade de Rua, onde apanhamos a N 120, andamos uns quilómetros até à N-VI, de seguida apanhamos a A6, em Vila Franca Del Bierzo, tivemos de sair, devido a obras, voltando à A6, imediatamente na entrada seguinte. Aqui sim, seguimos directos até Pedrafita do Cebreiro. Chegamos por volta das 11,40h, nossas que seriam 12,40h deles. O Sr da pensão já tinha sido informado do nosso atraso, pois tínhamos – lhe ligado a avisar, foi só as formalidades da recepção e toca a dormir que no dia seguinte esperava-nos uma longa caminhada.

1. 1ª Etapa
2. Pedrafita do Cebreiro/ Cebreiros- Tricastela
Tomamos o pequeno – almoço e pagamos a conta, tiramos as fotos da praxe, todos equipados, mais parecia uma daquelas caminhadas turísticas que estão muito em moda agora, coisa para duas horitas, nada mais. Puro engano, de cálculo mental, fantasia de escuteiro, a Luísa com
um sorriso de maleficência, pensava naquilo que tinha sofrido e, iria ficar na expectativa dos acontecimentos. Como bons samaritanos demos inicio à nossa caminhada, devo referir que estávamos a quatro quilómetros do início previsto. Fomos obrigados a este esforço complementar, e para começo nada melhor que estes quilómetros numa subida bem acentuada, subimos dos 1225 mts, para os 1293 mts, neste percurso deu para encher os cantis de água pura numa fonte que encontramos pelo caminho.
Chegados a Cebreiro, ficamos espantados pela acolhedora aldeia ali existente. As casas foram todas recuperadas, e estavam bem tratadas, com uma igreja lindíssima, da qual realço a pia baptismal, uma enorme pedra redonda, toda ela bem torneada em forma de pia, nota-se um trabalho de excelência, de grande complexidade física. Os nossos fotógrafos, retrataram bem toda esta envolvência.
Segundo consta a lenda, existiu aqui, “O Milagre do Santo Graal no Cebreiro”
Documentos históricos informam que D. Afonso VI, em 1072, relatam que a direcção do monastério , existente naquela época, ficou a cargo dos monges franceses da abadia de San Giraldo dÁurilac, que posteriormente passou às mãos dos Beneditinos que a administraram até ao desetificação.
Conta a lenda, que em um dia de muita neve e tormenta, um camponês do pequeno povo de Barxamaior, subiu com grande sacrifício e perigo devido ao forte temporal que caía, até ao alto do Cebreiro para orar a Santa Missa. Um monge leva a cabo a celebração da missa, no entanto fazendo-a com pouca fé, ademais depreciando o sacrifício do camponês única pessoas presente. No instante da Consagração, murmura: o que verá este, com semelhante tempestade! “Se, se trata só de um pedaço de pão e um pouco de vinho”. Nesse instante a hóstia e o vinho se transformam em Carne e Sangue visíveis a ambos, que permaneceu durante muito tempo sobre o altar. Os peregrinos divulgam este milagre por toda a Europa. os anónimos protagonistas desse milagre, o camponês devoto de Barxamaior e o incrédulo celebrante estão enterrados na mesma capela dos milagres.
Actualmente ainda se conserva naquele local, o cálice do milagre uma jóia românica do século XII, junto com o relicário que, em 1486, os Reis católicos doaram quando lá chegaram para contemplar o milagre.
A tradição também relaciona o cálice com o Santo Graal das lendas medievais, se trata do último copo da última Ceia, recolhido por José de Arimatreia e insistentemente procurado pelos cavaleiros da Távola Redonda encabeçados pelo Rei Artur. Neste Cálice, José de Arimatreia recolheu o sangue de Cristo na Cruz. A lenda informa que o famoso cálice “ se encontra numa inacessível montanha a Oeste da Espanha gótica”. Desde o século XV, o símbolo do Santo Graal aparece no escudo da Galiza. O Graal representa o símbolo da pureza moral e da fé triunfantes dos heróis cavaleiros e a caridade ao serviço dos mais altos ideais do cristianismo.
Perante este cenário edílico, demos início a certificação do nosso Compostela e, seguimos a nossa caminhada por entre o casario da pequena povoação. Eis que se junta ao grupo uma moça com ar afável, metendo conversa, num inglês fluente denotando-se
logo a origem. Essa conversa foi essencialmente com o Zé pois ele fala fluentemente, pois eu apanhava meia dúzia de coisas básicas. Entretanto soubemos que a moça já vinha a andar desde de St Jean Pie de Port (ver nome), e que tinha que chegar a Santiago na quinta - feira, iria apanhar uma camioneta para adiantar um pouco o seu percurso. Neste entretanto chegamos ao alto de S.Roque, onde existe um monumento ao peregrino, paramos para as fotos e as necessidades fisiológicas. Toda esta caminhada até a este alto foi feita debaixo de chuva com pouca intensidade, mas não deixando de nos molhar e, confesso também que estava um frio de rachar. Aqui a nossa acompanhante deixou-nos e, nós continuamos a nossa subida até ao Alto do Poio aos 1370 mts de altura, esta subida nos últimos cinquenta metros é digna de um verdadeiro alpinista. Quando estamos mesmo a dar as últimas, chegamos ao cimo, e para nossa satisfação existe um café com uma esplanada, onde os peregrinos se sentam a descansar, pois naquele dia também serviu de refúgio pois a chuva não dava tréguas. Devo deixar aqui uma nota: a dureza deste percurso já por si só é tão grande que com chuva se torna demasiado penosa. Temperadas as forças, com uma sandes e um sumo, completando com um café bem quente, ficamos refeitos para continuar a nossa caminhada, sem antes deixar uma mensagem no livro que existia no café para peregrinos. Tínhamos recebido a informação que a partir, daquele ponto seriam doze kms sempre a descer, o que se veio a revelar extremamente desgastante na medida em que como somos todos rapazinhos para cima dos três dígitos, quem mais sofreu foram os joelhos, para além de travar o andamento, tinha de levar com o excessivo peso do nosso corpinho. Cheguei a Tricastela, confesso bastante cansado, molhado e com algum frio que se fazia sentir. Parei encostado ao muro do albergue à espera dos restantes elementos, que foram chegando, bem piores do que eu. Ainda tive de ir para a estrada, fazer sinal à Luísa que entretanto tinha parado mais atrás e, não nos viu passar. Feitas as formalidades na recepção, se demorássemos mais cinco, já não tínhamos albergue, atrás de nós só entraram mais duas pessoas. Verificadas as condições do albergue, este não tinha cozinha, o que resultou num jantar no restaurante que havia mesmo ao lado. Tomamos um banho, uma massagem aos pés e pernas e, de seguida uma sesta até à hora do jantar. Tricastela é uma localidade muito pequena, com um casario típico da zona. Aqui existem dois caminhos a seguir, um segundo os livros, será o primitivo que passa por uma densa floresta e, era percorrida no século XII, o outro, ou seja o alternativo seria pela estrada, voltando ao caminho cerca de três km, à frente. Nós devido às condições atmosféricas optamos pelo caminho alternativo.

Como havia ausência de calor, a alvorada passou a ser pelas seis horas nossas, sete horas deles, o que de certa forma era benéfico para nós porque tínhamos mais uma horita de descanso. Iniciamos a nossa marcha sem o pequeno - almoço por não termos as condições no albergue para a tomarmos. A, nossa R.P. iria tratar disso durante a nossa marcha. O que aconteceu sensivelmente uns quatro km à frente. Demos com um sítio com umas mesas e bancos, onde fizemos a primeira pausa. Devo referir que esta caminhada até à Vila de Samos, foi toda ela praticamente por alcatrão, os nossos joelhos ressentiram-se um pouco da caminhada do dia anterior. Ao chegar à vila de Samos, deparamos com um enorme mosteiro, e pelo que os nossos olhos viam, estava em prefeitas condições de conservação. Aqui fizemos outra pausa, para beber alguma coisa e comer também. O momento foi retratado, rectificamos as finanças, por haver multibanco e, continuamos a marcha. Não posso deixar aqui uma nota importante sobre esta vila. A partir do rio Ouribio ergue-se o antigo mosteiro de San Julián de Samos, que é regido por monges Beneditinos. Seu nome deriva da palavra Saman Swabian, que significa "lugar de se viver em comunidade religiosa." Segundo a tradição, foi fundado por São Martinho Dumiense no sexto século. No início do século décimo, Dom Ero Lugo tentou obter o controlo do mosteiro, que foi reduzido a uma simples comunidade. Mas o Rei Ordoño II para salvar a crise e reavivado pela chegada de monges do mosteiro de Penamaior. Desde o ano 960, pelo menos, a comunidade de Samos viviam sob a Regra de São Bento. Séculos mais tarde, a incorporação em 1505 a Congregação de São Bento, Valladolid foi um grande impulsionador que deu enorme brilho, material e espiritual, a Samos.
Entretanto com o intuito de tirar mais umas fotos de pormenor o, Amadeu ficou um pouco para trás. Eu e o Zé seguimos a caminhada, a certa altura, vemos a Luísa a passar e dentro da Limusina todo refastelado o Amadeu, pois em verdade poupou os km, poucos mas de bom agrado. Pouco mais à frente eis, que deparamos com a indicação do caminho pelo monte, o que desde logo o seguimos, mas reparamos que muitos dos peregrinos seguiam pela estrada. O que se veio revelar um acto de economia, pois nós acabamos por fazer cerca de seis km a mais e com um grau de dificuldade elevado. E como aconteceu no dia anterior, quase que ficávamos sem albergue, pois demoramos mais e as pessoas neste caminho são muitas. É de realçar que neste caminho francês, é percorrido por centenas de pessoas todos os dias e, por conseguinte se torna imperioso chegar cedo aos albergues públicos, pois estes são mais baratos. Tenho de deixar aqui uma nota relevante, ao caminho que optamos, em prol da estrada, apesar de ser mais longo, desfrutamos de paisagens únicas, que de outra forma não gozaríamos, valeu o esforço.
Chegados ao albergue, encontramos na recepção um sujeito de cerca de sessenta anos ou mais, de estrutura mediana, careca e com uma lentidão de processo coadunando-se com a idade. Verificadas as condições, aqui podemos fazer a nossa primeira refeição quente. Depois do banho supostamente quente, que foi frio, pois fomos dos últimos a entrar no albergue, demos descanso ao nosso corpo. Foi então que fomos para a cozinha, para confeccionar o nosso menu. Saiu massa com chouriço e salsichas, o que não se comeu tudo, pois tínhamos estado a comer um queijinho e a beber um cervejita. Neste refeitório encontrava-se um grupo de jovens, e uma delas fazia anos, para festejarem compraram umas bebidas, entre as quais uma garrafa de amarelinha, já minha conhecida, ofereceram e, eu aceitei com agrado pois iria cortar a gordura da comida. Dentro do nosso quarto, que tinha de ocupação doze pessoas, entre elas três francesas e uma delas, já não seguravam as urinas e, ainda roncava, um brasileiro, este sereno mas um pouco esquisito. Como esta gente não contava com os rasteirinhos dos portugueses, que em questões de roncos não deixam os seus créditos por mão alheias. Pelos vistos o festival nocturno foi digno de registo, pena foi que eu não pude assistir, visto ter sido o actor principal. É de enaltecer as capacidades de resistência, destas pessoas, que com tanto cansaço ainda tiveram tempo para assistir ao canto lírico do português. Contam as más, línguas que as francesas, fartaram-se de chamar as galinhas, bem em português é “chamar a música” em França “as galinhas”, é que a canção delas para mim foi música para embalar. Foi neste albergue, que outra das francesas ficou espantada, ao ver a Luísa a dar-nos massagem aos três, na medida em cada caminhada era motivo para mazelas e músculos cansados devido ao esforço. A referida senhora no seu francês fluente pergunta se a Luísa era massagista, nós no nosso francês, arcaico dissemos que não, no entanto não conseguimos dizer-lhe efectivamente a verdadeira profissão, porque ela não nos entendeu os vários nomes que demos à profissão de jurista.
Sarria é uma vila pequena, com um centro histórico com algum interesse, algumas fotos e ficou o registo, desta pequena localidade. Nestas três fotos deixamos o retrato de toda a envolvência que tem este caminho, que é percorrido por milhares de pessoas ao longo do ano.
3ª Etapa
Sarria a Portomarim
Saímos de Sarria pelo centro histórico e, logo com uma subida bem acentuada. No entanto o tempo prometia, pois o Sol esse astro maravilhoso que aquece os nossos corpos e dá a luminosidade necessária ao nosso caminho, lá ia passando por entre as espessas nuvens carregadas de muita água. Ficamos sorridentes e com a esperança, que pelo menos pudéssemos ter uma caminhada sem a maçadora chuva, que fazia questão em nos acompanhar. É como diz o ditado foi sol de pouca dura e, para castigo chuva a granel, houveram períodos que chovia copiosamente, não dando trégua ao peregrinos, a água entrava nas botas e já não era necessário desviarmo-nos das poças. A certa altura a chuva caía com tanta intensidade, que ao passamos por uma casa de um lavrador, nos fomos abrigar debaixo de um alpendre desta tormenta, juntamente com outros peregrinos. Foi neste percurso que aos desviar-me de uma grande poça, me arranhei numas roseiras e urtigas, que mais tarde deram origem a uma infecção, provocando algumas dores que fui suportando no resto da caminhada. Quando cheguei a Portugal fui ao hospital de Viana, e foi confirmada a infecção dando-me um antibiótico para tomar. Perante um cenário deste, começamos a questionar se faz sentido fazer uma caminhada como esta e nestas condições atmosféricas. Para além dos motivos religiosos, que se deve ter sempre em conta, porque somos católicos, mas no caso, seria as chamadas férias lúdicas fruto dos tempos modernos. É que este tipo de caminhadas, são de grande dureza física, anímica e psíquica. São compensadas pelas paisagens naturais que se vão encontrando, como pelas localidades e vilas que passamos em que tem construções arquitectónicas típicas das regiões envolventes. Feito o balanço dos prós e dos contra, achamos que foi positivo, também nos divertimos com as situações caricatas. Entretanto a nossa relações publicas já tinha localizado o albergue de Portomarim e ficou á nossa espera na entrada da localidade, apanhando a seca do habitual, matando o tempo a jogar no computador. Ao chegar a Portomarim, atravessamos uma ponte sobre o rio Minho que nos proporciona uma emoção, por sabermos que este rio também é um pouco português. Depois de percorrida a ponte, encontramos uma escadaria com uma cópula no cimo por onde, os peregrinos têm de passar, em direcção ao albergue. Consta que no capítulo do guia dedicado ao peregrino, " neste capítulo aparecem os nomes de restauradores do Caminho de Santiago", citando Pedro, que por volta de 1120 "reconstruiu a ponte sobre o rio Minho, destruída pela Rainha D. Urraca.
Chegamos ao albergue tivemos de esperar cerca de meia hora pela sua abertura. Neste tempo telefonei à Maria para saber o resultado das eleições Europeias. Ficamos a saber que tinha ganho o PSD com um deputado a mais que o PS, e a terceira força foi o BE. Nesta meia hora os músculos ficaram de tal forma duros que quando a fila começou a andar, as pernas não queriam mexer, estes só voltaram ao normal depois de um duche bem quentinho e uma cestinha. Refeitos do cansaço fomos dar uma pequena volta pela vila e, paramos numa esplanada para bebermos um pouco de água de Leça, que no caso era da Galiza. Portomarim é uma vila com alguns pontos de interesse, a começar logo pelo rio que dá uma beleza impar. Tem também uma igreja do feitio de uma torre, e com um ninho de cegonha num dos cantos da mesma, que a torna ainda mais característica. O edifício do ajuntamento é de construção antiga e, uma capela com largas semelhanças a muitas das nossas do nosso interior. Achei também uma Vila pacata muito bem cuidada, proporcionando a quem a visita uma agradável estadia. Neste dia, e para o jantar resolvemos fazer um arroz de frango. Foi necessário fazer a lista das faltas e, seguidamente as compras para a confecção deste delicioso manjar. Esta logística, como sempre estava a cargo da Luísa, mas que neste dia o Amadeu resolveu ir com ela pois necessitava de pensos para os calos e bolhas. O jantar foi acompanhado com substrato da videira, e por fim um café e um choupinho amarelinho. Chegada a hora de dormir, lá fomos para o albergue, este era constituído por vários dormitórios de cerca de quarenta pessoas. Segundo relatos dos meus companheiros, nesta noite foi uma das maiores sinfonias jamais escutadas. Devo referir que não ouvi nadinha, pois o cansaço era tanto que eu adormeci não dando por nada. Pelos vistos fiquei rotulado, de provocar tal sinfonia, mas em verdade vos digo, se eles ouviram é porque não estavam suficientemente cansados, porque se o estivessem não ouviriam. Eis-me aqui a sacar dois “roncos” e não estava acordado, quanto aos outros, temos pena.
4º Etapa
Portomarim a Palas de Reis/Melides

Iniciamos a nossa caminhada, sem chuva e, com o aparecimento de uns raios de Sol que nos fizeram tirar as camisolas, pois foram cerca de meia dúzia de quilómetros, a subir pelo monte acima pelo meio do arvoredo e, com o rio Minho do nosso lado direito. Depois seguimos junto à estrada LU 633, uma boa parte do caminho. Entretanto tivemos a nossa primeira paragem, num café que se encontrava junto a esta estrada, onde a Luísa se encontrava à espera, já nesta altura avinha a doer-me a perna esquerda, deitei um pouco de spray, continuando a marcha pois ainda faltavam algumas horas de caminhada. Nesta altura deixamos a estrada LU633, e seguimos por uma outra secundária, passando pelo interior das localidades até Palas de Rei. Tínhamos andado mais uma horita e a Luísa estava parada a nossa espera pois tinha preparado umas sandes e um sumo, para dar energia para o resto do caminho. Neste lugar existia uma pequena capela, que na sua porta tinha uns símbolos referentes ao caminho de Santiago, como a vieira, entre outros, um sino segundo a lenda deveria ser tocado pelos peregrinos para dar sorte para o resto do caminho. Como bons samaritanos lá tocamos a sineta, este momento está aqui bem retratado. Continuando o caminho com uma subida, e logo de seguida uma longa descida que acabaram com a minha perna, pois já parecia que estava na idade do “Condor” aqui “Condor” ali. Entretanto mais uma subida e deixamos de ver o Amadeu, quando demos conta estava a passar de limusina, pois até motorista tinha, fomos-lhe encontrar um pouco mais à frente num café a fazer festas a um lindo cão. Os pretos aqui fartos de calcar alcatrão. Paramos para satisfazer as necessidades fisiológicas, bebendo mais um sumo, mas principalmente descansar a minha perna. Prosseguimos a caminhada, pois ainda nos faltava cerca de hora e meia para chegarmos a Palas. Entretanto e devido ao esforço a minha perna começava a doer, dando vontade de a desatarraxar, substituindo por outra, ou então pedir aos cromos que levavam as mochilas estilo carro de mão, um desses para eu levar a minha perna, transportando - a dessa forma a perna, chegaria ao destino sem esforço. Mas como não foi possível, um pouco mais de esforço lá consegui chegar a Palas.

Entretanto a nossa, relações públicas já tinha dado uma olhadela ao albergue e, tinha constatado que este não tinha grandes condições, para além de ser muito pequeno. Paramos todos á porta e resolvemos por maioria seguir viagem e ficar noutro albergue em Melides, cerca de doze quilómetros à frente. Como o cansaço de todos nós era grande resolvemos fazer estes últimos de limusina, pois também o merecíamos. É de salientar que este percurso era ele todo feito ao longo da estrada, por conseguinte não se perdeu grande coisa, pois só iríamos gastar as solas das botas. Chegados a Melides, é uma vila já grandinha, encontramos aqui algum modernismo, como prédios e, também algum movimento de trânsito. Entramos no albergue, feitas as formalidades, fomos ocupar as nossas camas, que por sinal eram antigas, eram beliches em madeira e quando as pessoas se viravam na cama estas faziam barulho, parecia que se iam partir. Tomamos o retemperado banho quente e, de seguida uma sestinha para descansar as pernas. Mais tarde fomos petiscar alguma coisa e fazer o jantar, que foi massa com carne. Durante o jantar tivemos a oportunidade de conversar com um casal, ele era Alemão e a sua companheira era Russa, trocamos um diálogo em inglês e tivemos conhecimento que a caminhada deles foi feita desde França, no entanto essa caminhada, foi realizada uma semana por ano, no período das férias. Partindo no ano a seguir no local onde tinham terminado. Na mesa ao lado da nossa, encontravam-se um grupo de Alemãs, que devido ao avançado ADN, (Afastamento da Data do Nascimento) notava-se algumas varizes nas perna, mas nem por isso deixaram de se divertir, estavam na galhofa a beber o seu copinho e a comerem um queijinho, entre outras coisas, mas como as garrafas tinham rolha e no albergue não existia saca-rolhas, elas pediram-nos ajuda para abrir as ditas garrafas, o Amadeu de pronto fez-lhe a vontade, o que elas agradeciam com um sorriso não muito aberto, no entanto pondo a mão na boca, com medo que a placa caísse. Depois do nosso delicioso jantar, e de arrumar toda a tralha inerente a esta magnifica refeição, fomos tomar o cafezinho da ordem acompanhado de uma não menos saborosa “amarelinha”, passo a explicar: amarelinha é uma aguardente a onde se juntam umas ervas as quais dão esta tonalidade, tornado uma bebida licorosa e saborosa, também devo dizer que esta bebida é característica da Corunha.
Destas imagens poderão imaginar o quanto é belo, este caminho. Para além desta beleza natural, nós todos mas eu em particular, desfrutei e partilhamos de algo que é contagiante, só ao alcance de que pode realizar uma caminhada assim.
5ª ETAPA
Melides / Árzua / Monte Gozo
Devo dizer que desde o fim da tarde de ontem, a chuva não deu tréguas. Tomamos o pequeno - almoço, e com muita pena nossa tivemos de vestir os impermeáveis, confesso que já deitava impermeável pelos olhos. Mas a caminha da era para nós e tínhamos que avançar. A Luísa ficou a meter as coisas no carro, e nós iniciamos a nossa caminhada de cerca de vinte quilómetros, que devo confessar iriam ser um pouco penosos, na medida em as minhas condições físicas não eram as melhores. Mas com o passar do quilómetros, pensando dos objectivos que nos propusemos, recebemos força e determinação para continuarmos, é extraordinário que a meio já suportamos todas as vicissitudes ao desgaste físico. Devo referir que a pesar das condições atmosféricas, fizemos dez quilómetros em duas horas e meia, velocidade acima da média, quase que éramos multados por excesso de velocidade, tal era a nossa passada. Junto desta Capela paramos para reabastecer o corpo de alimento e descanso. Segundo consta a tradição todos os peregrinos que passam por aqui, tocam o sino desta Capela, o que de pronto o fizemos. Na porta como se pode verificar estão gravados os símbolos de Santiago. A Cruz, o Cálice e o pão, que simboliza o milagre do Santo Grau e a vieira que nos indica o caminho. Quero deixar aqui registado, que esta etapa teria outra beleza não fora o tempo chuvoso que nos acompanhou sempre da melhor ou pior vontade.

No caminho de Árzua passamos por magníficos sítios, como estes que ficam por muito tempo na retina dos nossos olhos. Ao vermos estas fotografias, vem-nos à memória todos os pormenores por nós vividos e que são de uma grande riqueza humana.
Junto a este rio existe uns degraus onde segundo consta que estando perto de Santiago os peregrinos faziam aqui um ritual. Esse ritual, não era mais do que lavar os pés no rio e descansar de tão grande caminhada. Seria um momento de reflexão e de oração, de partilha com outros peregrinos que se iam em cada vez maior número se juntam, porque estava mais próximo o fim desta enorme mas sem dúvida espectacular caminhada.
Vou confessar um segredo, devido ao mau tempo, e de Árzua a Monte Gozo o caminho faz-se paralelo à estrada o que se torna numa grande monotonia, o que iria complicar o nosso esforço. Resolvemos fazer este percurso de cerca de doze quilómetros de limusina. Chegados a Monte Gozo a este Albergue aqui retratado, foi só fazer as formalidades da entrada. O funcionário da recepção depois de verificar a nossa identidade, perguntou-nos se éramos do Porto FC, o que de pronto o Zé respondeu que sim, excepto eu que era Benfiquista. Servindo esta acusação de chacota para o referido recepcionista, é que me fez lembrar os sete a zero do Celta de Vigo ao Benfica. Defendi-me da melhor maneira, se por ventura à maneira de defesa de uma derrota daquelas. Continuando com as formalidades aliada à boa disposição do recepcionista, fomos perguntando onde se poderia adquirir alguns mantimentos, entre outras coisas. De forma solicita deu-nos todas as informações necessárias, desde o supermercado existente, assim como dois ou três restaurantes, referindo-se de forma pormenorizada da relação qualidade preço de cada um. Por fim, ainda teve para connosco uma atitude de grande afabilidade, deixando-nos ficar aos quatro num só quarto, pois estes eram constituídos por oito beliches, onde se podiam juntar oito pessoas. Depois de instalarmo-nos, tomamos o nosso banho retemperador, e fomos dormir a cesta, pois o cansaço era muito e o corpo estava a pedi-las. Por volta das cinco, quando acordamos, fomos tratar da logística do nosso jantar.

Aqui estamos a fazer a nossa refeição, faltando só o fotógrafo Amadeu. Devo referir que este Albergue também era de excelente qualidade, tendo boas instalações em todos os domínios. Por uma questão de economia de esforço, as refeições que fizemos teriam como base arroz e massa, pois assim utilizávamos um só tacho ou uma só panela. Posso até dizer em boa verdade vos digo, que para aquilo que vimos, a maioria dos peregrinos, não tinham estas mordomias. Limitavam-se a sandes, e por vezes a salsichas quentes e a chá, café ou leite. Quem estivesse um pouco atento, não tinha com certeza dúvida de nos identificar como bons portugueses. Fomos dar uma volta depois do jantar, e como estávamos sequiosos não deixamos de provar o sumo da cevada, que por sinal nada se compara com a nossa água de Leça. Ou seja à nossa loira de olhos vermelhos, (Super Book). Tenho de referir, como era a nossa última noite desta nossa aventura e, restando apenas quatro a cinco quilómetros, podemos desfrutar uma pouco mais deste fim de tarde, princípio da noite. Foi para nós um momento de relaxamento e de descontracção, podendo gozar um pouco mais de tempo aquele lugar. Este lugar considerado um pouco Santo, porque foi visitado pelo Santo Papa João Paulo II, existindo até uma estatua sua, a abençoar o referido local, Monte Gozo. Daqui podemos avistar as agulhas da Catedral em dia de tempo limpo, pois não foi o caso.

6 ª Etapa
Monte Gozo / Santiago
Iniciamos a nossa pequena caminhada por volta das nove horas locais, pela frente teríamos um pouco mais de uma hora de caminho, visto faltarem apenas aproximadamente cinco quilómetros. Por outro lado não queríamos chegar muito tarde a Santiago, porque poderia estar muita gente, onde se tiram as compostelas. Normalmente e, devido a grande afluência de peregrinos podemos estar na fila para cima de uma hora. Na véspera e por ser feriado em Portugal, dez de Junho dia de Portugal e das comunidades, a Augusta e a Lenita, mais a família Rêgo, foram ter connosco para trazerem-nos de volta, aproveitando o facto almoçamos todos juntos. Nesta foto é a nossa entrada na cidade, estávamos com o fim à vista, e sentindo um pouco de orgulho apesar das vicissitudes e da fadiga é, neste momento que nos esquecemos de todos os sacrifícios passados.
Entretanto fomos logo para a referida fila, já se encontravam algumas pessoas, e calculamos uma boa meia hora até à nossa vez. Depois deste ritual e, termos as compostelas viemos para a frente da Catedral e assim retratarmos o momento, que será sem dúvida a visita ao Santo, para uns será o cumprir das promessas e agradecer o facto, para outros agradecer o simplesmente o ter chegado bem e, poderem ter tido a oportunidade de desfrutarem das maravilhosas paisagens porque passaram. Este é um monumento digno de ser fotografado e apreciado por todos. A Catedral de Santiago, cuja construção se iniciou em 1075, é considerado como um dos grandes monumentos da Europa, tanto a nível artístico como simbólico. Desde a sua origem românica evoluiu através dos mais diversos estilos, especialmente o barroco, que alcançou o seu come na fachada de O Obradoiro (1736- 1750).

Depois de todas as formalidades, desde a Compostela, à visita interior da Catedral e a Santiago, é o momento de relaxar um pouco enquanto esperávamos pela nossa família, pois esses vinham da Amorosa e ainda são perto de duzentos quilómetros.

Por fim encontramos um restaurante onde fomos saciar a nossa fome, ficando retratado aqui esse momento. Esta refeição foi composta de caldo galego para a maioria, os mais novos optaram por canja. Seguiu-se a costeleta entre outros pratos. Durante o manjar, fomos relatando a nossa aventura e os momentos mais hilariantes, dois quais eu, era segundo as más línguas o actor principal. Era hora de regressar a casa, dirigimo-nos para os respectivos veículos. Chegava assim ao fim, mais uma aventura que irá ficar nas nossas memórias e não só, ficará este relato para suporte não de todos os pormenores mas o essencial desta viagem.